Empresários também choram

Artigo Carol Manciola. CSO da Crescimentum, Mindshiftter 2021 e autora #BoraBaterMeta e Coragem e mais alguns Cês da Vida

Carol Manciola – Foto: divulgação

Vira e mexe eu leio depoimentos de funcionários estressados com seu dia a dia e a pressão do trabalho. Frequente também são os relatos de quem está desempregado e seu desespero em não conseguir pagar as contas. Pessoas que choram escondidas no banheiro da empresa, no silêncio do quarto e nas redes sociais. Todos eles legítimos.

O choro é uma manifestação emocional.

Um recurso utilizado pelo ser humano para comunicar dor, frustração, mas também comoção e empatia. Todos choram. Empresários também.

Ao abrir um negócio, você coloca seu dinheiro, sua energia, sua competência, sua vida para fazer dar certo. E creiam: a maioria das pessoas que decide empreender não tem como principal motivação ficar rico. Isso é consequência de uma série de fatores que só costuma aparecer nas biografias (sejam elas autorizadas ou não).

Quando um negócio dá certo, os empresários são taxados de gananciosos, malandros, egoístas e por aí vai.

E quando não dá (ou não está dando) somos sonhadores, corremos riscos demais ou até enlouquecemos tentando fazer algo que “não faz sentido” dar certo.

Empreender é difícil. Gerir uma empresa também.

Impostos altos sobre os quais você não vê retorno, contratos com prazo de pagamento de 45, 90, 120 dias após entrega, fluxo de caixa negativo, empregados que nem sempre compartilham do seu propósito, empregados fazem o “feijão com arroz” e querendo receber pela lagosta ao termidor, clientes exigindo além do combinado e você fazendo porque ele é “estratégico”, prazos curtos, falta de braço, de cabeça, de coração. Pressão de todos os lados: da sua família, dos seus sócios, dos seus colaboradores, dos seus clientes, dos seus concorrentes.

Gerir um negócio seu é um conflito eterno entre o ego, a alma e o corpo.

Um nível de exaustão física e emocional e, muitas vezes, uma ausência total de ajuda, de apoio e de empatia.

Sim, empatia. Afinal, ela vale pra todos os lados. Faça aqui um pequeno exercício de empatia:

  • Você se sente pressionado para conseguir pagar as contas no final do mês? Imagine conviver com a pressão de uma folha de pagamento que vai impactar as contas de muitas outras pessoas.
  • Você se sente injustiçado ao pagar IPVA, IPTU e IR? Adicione a isso uma série de outros impostos que levam diretamente, pelo menos, 25% de tudo que você fatura?
  • Você se sente cansado por causa do jeito de liderar do seu chefe? Normalmente você só tem um chefe. Já pensou como seria lidar com dezenas deles todos achando que você pode dar (ainda mais) seu melhor?
  • Você se sente preterido quando um colega é promovido por conta de politicagem? No mundo dos negócios é frequente um concorrente “ganhar” de você utilizando caminhos poucos éticos.
  • Ver as redes sociais te causa “inveja”? Postar o sucesso te faz ser o invejado.
 
A responsabilidade do empreendedor é gigante. O esforço é incomensurável. Se você não está alicerçado num propósito claro é fácil desistir.
Os planos de negócios, os cursos de gestão, a mentoria… tudo isso ajuda muito. Mas para empreender é preciso fé.
 

Fé na sua ideia, fé na sua capacidade e fé na humanidade.

Mas só a fé não move montanhas.

É preciso muita consciência de quem você é, de onde você quer chegar e o que precisa adicionar à sua bagagem para ir cada vez mais longe. Não existem atalhos.

É preciso coerência entre discurso e prática, entre planejar e executar, entre ser e estar, entre fazer e delegar.

É preciso consistência para se manter firme lembrando que velocidade sem direção é perda de tempo. Consistência é lastro e ao mesmo tempo mola: te dá base pra estabilizar e impulso para voar. Manter a consistência requer desejo ardente, decisão, disposição e muita disciplina.

E é preciso coragem. Coragem pra agir apesar do pânico, da frustração, do julgamento. Coragem para, como diz a Dani Junco, “confiar esperando que o outro vá fazer sua parte na hora certa”.

Empreender é ser movido por crenças. No meu caso, é também ser impulsionado pelo impacto que desejo causar no mundo, pelo desejo de fazer o meu melhor todos os dias e por amor. Um amor que me faz, por vezes, acreditar mais no potencial do outro do que ele mesmo.
 
Empreender é ser impulsionado por um amor que, por vezes, me faz acreditar mais no potencial do outro do que ele mesmo.
 

Esse não é um jogo onde se pode ganhar ou perder, aliás esse não é um jogo. Essa é a vida se manifestando em toda sua intensidade.

Empresários também têm suas dores. Mas talvez o maior motivo de choro esteja na incompreensão e no sufocar nosso de cada dia, onde precisamos parecer fortes, seguros e invencíveis.

Eu aprendi que as lágrimas são inevitáveis e que é melhor deixar elas caírem. Mas aprendi também nesse processo que quanto mais eu faço gente sorrir, mais sentido fazem as minhas lágrimas que são de alegria, alívio e realização.

Mesmo com todos os dissabores não restam escolhas a não ser seguir em frente. E se é pra seguir em frente eu irei de salto alto, batom vermelho e usando toda minha expressão. Afinal, como musicou Caetano Veloso: respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minhas risadas.

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