Por que a nossa voz muda ao longo do tempo?

Por
Por Dr. Rui Imamura*

É importante estar atento a sinais que possam indicar problemas mais graves envolvendo o aparelho fonatório

Foto: Freepik

“Ei, ei, você se lembra da minha voz?” Os mais velhos, com certeza, recordam dessa propaganda, muito famosa na década de 70. Também devem recordar, claro, que a mocinha da peça publicitária emendava que a voz dela continuava “a mesma”.

Será, realmente? Hoje em dia, é certo que não. Nem a dela, nem a de quem ainda lembra desse antigo “reclame” da TV. Afinal, a nossa voz também envelhece – ainda mais, passados quase 50 anos.

Embora isso seja algo natural da vida, é importante sempre estar atento a sinais que possam indicar problemas mais graves. Isto é, riscos à saúde envolvendo o aparelho fonatório.

Quadros de rouquidão progressiva, pigarros constantes e diminuição da potência vocal podem representar doenças e lesões, como pólipos, edema de Reinke, atrofias das cordas vocais e, até mesmo, câncer na laringe.

Estudos sugerem que cerca de metade das pessoas com 60 anos ou mais, que, por motivo de rouquidão acabam procurando serviços de saúde, apresenta doenças que precisam ser diagnosticadas e tratadas para evitar situações que representem risco à saúde do idoso. Além dos tumores e lesões pré-tumorais da laringe, tais condições incluem quadros de obstrução respiratória progressiva, aspiração e pneumonias.

Geralmente, as pessoas tendem a negligenciar sintomas vocais. Isso acontece, sobretudo, entre idosos, por acharem que se trata de algo natural da idade. Dessa forma, é importante que familiares e cuidadores fiquem atentos a eventuais alterações e sempre busquem por um diagnóstico, caso suspeitem de alguma anomalia.

À medida que um sintoma se torna frequente, é necessário buscar um otorrinolaringologista, a começar pelo pigarro crônico, que pode estar associado a problemas simples, como refluxo, mas também a quadros bem mais graves, como câncer. Esse sintoma deve ser investigado, principalmente se associado à rouquidão, dores ao engolir ou falta de ar.

Da mesma forma, a percepção de fadiga ao falar, a redução da potência vocal e o aumento de secreção nas vias respiratórias e tosses também são aspectos importantes a serem observados.

Ter uma voz saudável está diretamente ligado ao bom desempenho do ​organismo como um todo. Por isso, manter o corpo hidratado, dormir bem e ter uma boa alimentação ajudam a conservar a saúde do aparelho fonatório. Nesse contexto, o uso de agentes nocivos, como o cigarro e álcool, devem ser evitados, pois são os principais fatores de risco para o câncer de laringe, que tende, justamente, a ocorrer a partir dos 60 anos de idade.

Quanto aos tratamentos dos distúrbios vocais, eles podem ser feitos por meio do uso de medicações, fonoterapias ou até mesmo cirurgia das cordas vocais. Tudo depende da gravidade do caso. Em média, mais de 2/3 das pessoas idosas acometidas por distúrbios da voz obtêm melhora no quadro clínico por meio do diagnóstico e tratamento adequados.

Dr. Rui Imamura, do Hospital Paulista

*Médico do Hospital Paulista, Dr. Rui Imamura possui graduação, doutorado e livre-docência pela Faculdade de Medicina pela Universidade de São Paulo, onde também é professor colaborador e orientador de pós-graduação em Otorrinolaringologia. Tem larga experiência em cirurgias otorrinolaringológicas e atua principalmente em atendimentos que envolvem laringologia e voz, disfagia, rinologia, lasers, enxertos, sialorreia e distonia.

Leia também

Em destaque