Wilson Andrade, afirma “na área de celulose e papel, podemos considerar a possibilidade de instalação de uma fábrica de celulose por ano no Brasil”
por Wilson Andrade, Diretor Executivo da ABAF. Contador, Economista e Professor de Economia Internacional com cursos de extensão no País e no exterior.
Hoje o mundo compra e vende algo em torno de US$ 250 bilhões de produtos de madeira por ano. O Brasil participa com apenas 3% desse montante, apesar de todas as suas vantagens competitivas no setor. Mas pretende começar a mudar o jogo. De acordo com os dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), a projeção para até 2020, no Brasil, é de termos a duplicação dos atuais 7 milhões de hectares de florestas plantadas, com projetos de investimentos de R$ 53 bilhões.
Esta projeção leva em conta a alta produtividade da madeira plantada por hectare no país, que se dá pelas excelentes condições edafoclimáticas e pela alta tecnologia empregada e aperfeiçoada pelas empresas do setor, com base em experiências internacionais e parcerias com a Embrapa e pesquisadores nacionais.
Esse expressivo volume de negócios no mundo e no Brasil tem taxa de crescimento de 6% ao ano – nos últimos três anos – e projeção de igual ordem para os próximos anos, devido ao crescimento da população e à melhoria de renda dessa população que gera maior demanda e consumo de madeira. Na área de celulose e papel, podemos considerar a possibilidade de instalação de uma fábrica de celulose por ano no Brasil – cada uma com investimento de R$ 8 bilhões, plantio de 100 mil hectares de madeira e uma produção de aproximadamente 1,5 milhão de tonelada/ano.
E parte desse potencial brasileiro poderia ser instalado aqui na Bahia, cuja produtividade é recorde mundial. A Austrália, que é de onde nós trouxemos o eucalipto, tem uma produção de 23 metros cúbicos por hectare/ano. Na Bahia este número é de 45. Já em algumas regiões mais adequadas este número chega a 60, quase o triplo da Austrália.
A Bahia e os municípios baianos precisam decidir se vão concorrer para conquistar parte desse crescimento. Se vão participar ainda mais do setor que já traz benefícios econômicos, sociais, ambientais, com geração de dívidas e saldo positivo da balança comercial. E, o mais importante: esses empregos e esses investimentos que geram melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) seriam realizados no interior do Estado, ajudando a descentralizar o concentradíssimo desenvolvimento da Bahia. Analisando a evolução do IDH nota-se que os municípios com operações florestais obtiveram melhoras significativas nos fatores utilizados para o cálculo do índice: educação, longevidade e renda. Entre os anos de 1991 e 2010, na Bahia, o crescimento do IDH dos municípios florestais foi de 84%, enquanto o crescimento dos municípios não florestais foi de apenas 63%.
Essa maior participação não requer investimentos financeiros do Estado nem tampouco dos municípios. Mas o que observamos é que esse crescimento vem sendo absorvido pelos outros estados do país. Ou seja, empresas que poderiam estar investindo na Bahia, estão fazendo investimentos em outras áreas.
Além de tudo isso, toda essa expressiva oportunidade de investimento – captação de divisas, empregos, desenvolvimento social e ambiental – está hoje configurada pela celulose e no papel, apenas 1/3 do potencial existente. Os outros 2/3 das florestas plantadas no Brasil se destinam: metade para geração de energia e processamento de minérios, e a outra metade para produtos para uso múltiplo, principalmente peças e partes de madeira para construção civil em geral, como tábuas, portas, móveis, pisos e MDF (madeira aglomerada) etc.
Apesar da crise momentânea, as empresas de mineração que são eletrointensivas têm a necessidade estratégica de diversificar a matriz energética. O grande projeto de vanádio da Bahia ainda aquece seus fornos utilizando derivado de petróleo. Por outro lado, há um projeto exemplar: o projeto integrado da Ferbasa, completamente verticalizado porque tem o minério que extrai, as florestas plantadas como fonte energética e a metalurgia para produção de ferro-liga.
E esse é um caminho de oportunidade. Um estudo do NEO (Energy Outlook) feito pela Bnef (Bloomberg New Energy Finance) aponta que, nos próximos 25 anos, a utilização de fontes alternativas de energia (eólica, solar e biomassa principalmente na forma de cavaco) deverá saltar dos atuais 14% de capacidade instalada para 51% no país. No Brasil, US$ 26 bilhões serão direcionados à potencialidade da biomassa. A própria Comissão Nacional de Silvicultura e Agrossilvicultura da CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil) pretende criar uma agenda estratégica para propor dinamismos para o setor de biomassa e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), no Estado, deve fazer o mesmo.
Mas existem outros caminhos. No setor de madeira para utilização da construção civil, a Bahia – apesar de sua vantagem competitiva – ainda importa, dos estados do Sul, a maior parte da sua demanda. É nessas quatro áreas de base florestal, ou seja, que utilizam florestas plantadas como insumos (papel e celulose; mineração; energia e construção civil), que temos um potencial de investimento para alavancar a economia baiana de forma sustentável nos próximos anos.
Porém, o que a Bahia precisa para atrair esses investimentos? Segurança jurídica que implica nos direitos de propriedade privada e na segurança das suas plantações; o estabelecimento e liberação dos créditos fiscais; a liberação de compra de terra para empresas com capital estrangeiro; e melhor logística, como com a duplicação da BR 101, transporte ferroviário e marítimo etc.
Artigo publicado na versão impressa da revista Sacada.