Loja em contêiner, atendimento em casa: empresas tentam resistir à 2ª onda

Em um momento de agravamento da pandemia e restrições, o conselho é adaptar o negócio e conhecer o cliente

Campinas Celulares, rede de assistência técnica, cria formato de conteiner. | Foto: Divulgação

A pandemia de covid-19 já fez as empresas que sobreviveram terminar 2020 no prejuízo, e elas tiveram de ser criativas. Agora, com a nova onda da doença e mais restrições, empreendedores têm de apostar mais ainda em novos formatos de negócios, produtos e relacionamento com clientes. Há casos de empresas que estão funcionando em contêineres para pagar aluguel menor. Outras levaram seus funcionários até a casa dos clientes para prestar o serviço. Veja a seguir histórias de empresas que tentam não fechar para sempre por causa da pandemia.

Aluguel mais barato em contêiner – Em um ano marcado pelas dificuldades, há quem conseguiu expandir os negócios e fazer de 2020, “o melhor ano da empresa”. É o que diz o CEO da Campinas Celulares, Clayton Mangulin, que viu o faturamento mais que dobrar no ano passado. A Campinas Celulares fechou 2020 com R$ 4,5 milhões em comparação com R$ 2 milhões em 2019 e a inauguração de nove lojas. Ele expandiu as unidades para quiosques em supermercados, pagando um quinto do aluguel que pagaria em um shopping.

“Temos muita loja em shopping, e lembramos que há supermercados que são verdadeiros shoppings, com diferentes lojas. Um franqueado nos chamou para instalar uma loja em Minas Gerais no estacionamento, modelo contêiner, com aluguel de R$ 3.000. Em shopping, havia loja que pagava R$ 16,5 mil de aluguel”, diz Clayton Mangulin. A empresa conseguiu se fixar em quatro supermercados somente do ano passado.

Álcool para limpar equipamentos – Outro foco adotado foi a venda de álcool isopropílico -produto recomendado para a higienização de eletrônicos por evaporar mais rápido e não provocar danos aos aparelhos. “A gente chegou a doar 1.700 unidades de álcool isopropílico para um hospital em Campinas, e fizemos também doação em lives. Muita gente não sabia da indicação do produto na limpeza desses equipamentos. Ele agora esgota em uma semana”, completa. A rede pretende fechar 2021 com R$ 8 milhões de faturamento.

Preocupação com novas restrições – Jonas Bechelli, presidente da rede Doctor Feet: atendimento domiciliar Imagem: Divulgação Depois de investir R$ 100 mil para levar o serviço de podologia (tratamento dos pés) até a casa dos clientes, o presidente da Doctor Feet, Jonas Bechelli, se diz preocupado com as novas medidas restritivas anunciadas em diversas regiões. O home care da rede passou por um mês de testes e foi implementado durante a pandemia para garantir a sobrevivência da rede, que fechou 20% das lojas no ano passado. Aluguel em shopping é caro Em 2019, a Doctor Feet contava com 85 unidades. Hoje, são 70. De acordo com Bechelli, a maior dificuldade foi o aluguel das lojas de shoppings.

A empresa fechou 2020 no vermelho, com 35% do faturamento registrado em 2019. O aumento significativo no valor de materiais descartáveis ajudou a elevar o prejuízo. “Uma caixa de máscara saiu de R$ 7 para R$ 80, a luva que era vendida por R$ 12, hoje custa R$ 90. O valor dos envelopes de esterilização subiu mais de cinco vezes”, declara Jonas Bechelli. O empresário manifestou preocupação com as contas de 2021. “Este ano até agora estava equilibrado, não sei como ficaremos com essas novas medidas anunciadas. Fizemos um investimento em equipamento, mas parece que estamos vivendo um filme de terror”.

Espeto de carne para levar – Outra marca que precisou agir rapidamente no começo da pandemia foi a rede de bares e restaurantes Espetto Carioca, com unidades no Rio, São Paulo, Bahia, Ceará e Rio Grande do Sul. Os restaurantes serviam no local espetinhos de churrasco, mas passaram também a vender embalagens para levar para casa. “A gente já entregava os pacotes para os nossos franqueados, já tinha uma roupagem que facilitava o varejo, fizemos adaptações e isso se transformou em um baita oxigênio. Além disso, produzimos vídeos de como preparar os espetos e sugestões de acompanhamento”, revela Bruno Gorodicht, CEO do Espetto Carioca.

Outra medida adotada foi a implementação do delivery em todas as unidades. Antes da pandemia, apenas 1/3 das lojas contava com o sistema de entregas. Hoje representa 15% de todos os pedidos. A venda dos espetos para fazer em casa incrementa as entregas em 20%. A marca desenvolveu um aplicativo próprio de delivery com benefícios exclusivos. O Espetto fechou 2020 no vermelho, com 54% do faturamento registrado em 2019.

Delivery cresce 117% no interior – Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o setor sofreu uma retração de 25% em 2020. Cerca de 300 mil empresas fecharam e mais de 1 milhão de pessoas foram demitidas. Para tentar sobreviver, bares e restaurantes foram obrigados a aderir ao serviço de delivery oferecido por aplicativos. Em cidades do interior do país, o Delivery Much, aplicativo de entrega, registrou esse movimento e cresceu 117% somente no ano passado.

Árabe salvo pelo delivery – Quem precisou se adaptar e aderir à tecnologia em 2020 foi o restaurante familiar de comida árabe, Tenda Chalabi, em Caratinga (MG). “Ficamos fechados entre março e setembro, e o faturamento caiu 70%. Com o delivery, conseguimos garantir até 30% da receita. Foi preciso fazer testes com os pratos que seriam enviados, pois há toda uma preocupação com a temperatura e transporte, mas deu certo”, afirma Rodrigo Neves Chalabi, proprietário. O restaurante que voltou a abrir no final do ano com 50% da capacidade, terá que fechar ao público novamente devido às novas medidas de restrição. O restaurante planeja disponibilizar a venda de comidas congeladas no delivery para aumentar as receitas.

Empresas relatam redução de 1/3 no faturamento – Pesquisa do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), de fevereiro e março deste ano, mostra que para a maioria dos pequenos empresários o momento é de crise. Veja os dados:

– 6.228 pequenas empresas foram ouvidas
– 65% tiveram redução de 1/3 no faturamento em relação a 2019
– o movimento de recuperação dos pequenos negócios parou e interrompeu a melhora registrada nos últimos 7 meses

Ariadna Mecate, consultora de negócios do Sebrae-SP, diz que 2020 teve as seguintes características:

– aprimoramento dos canais de venda
– uso da internet para melhorar os negócios
– busca de tecnologia para vender
– entrada em redes sociais: WhatsApp, Instagram
– restaurantes se associaram a aplicativos
– empresas entraram para market place (sites que reúnem vários vendedores, como as Lojas Americanas)

“A palavra de agora é relacionamento. É necessário ficar próximo, entender o que o consumidor está passando e enxergar o que faz sentido para essas pessoas adquirirem em casa, no momento de pandemia e adaptar o negócio, aconselha Ariadna Mecate. | *Por Marcela Lemos/Uol

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