Projeto transforma duplex de 700m² em frente ao Country Club em refúgio sofisticado, com atmosfera contemporânea, acervo de arte brasileiro e áreas externas generosas

Como projetar um apartamento para quem sempre morou em casa? Esse foi o ponto de partida do Garden Victor, um duplex de 700m² localizado em frente ao campo de golfe do Country Club, em Curitiba. Assinado pelo escritório Rodolfo Fontana Arquitetura, o projeto nasceu do desejo de uma família por segurança e praticidade, sem abrir mão da conexão com a natureza, da sensação de amplitude e da liberdade dos espaços abertos – qualidades que marcaram décadas vivendo em residência térrea.
A relação com o arquiteto começou ainda na transição: enquanto buscavam o novo lar, os moradores já haviam confiado a Rodolfo o projeto do apartamento provisório, etapa importante para entender seus hábitos e aspirações. Quando receberam as chaves do novo imóvel, deu-se início a uma reforma total, conduzida por Fontana ao longo de 18 meses. Com poucas opções de personalização oferecidas pela construtora, o projeto derrubou qualquer traço do layout original: tudo foi pensado para aproximar a experiência da vida em uma casa, com ampla distribuição e integração à paisagem.
O novo layout parte de uma premissa clara: valorizar ao máximo a vista para o campo de golfe. No primeiro pavimento, a área social se estende ao longo de mais de 20 metros lineares voltados para o verde, criando uma sucessão de salas que se abrem à varanda frontal. A suíte master, posicionada no andar superior, também privilegia esse horizonte, assim como a academia e o escritório – originalmente impedidos por uma cinta de concreto, mas que surpreenderam ao conquistar aberturas voltadas à mesma paisagem.

O projeto conta com quatro suítes: duas no andar superior (para o casal e hóspedes) e duas no inferior, dedicadas ao filho do casal – uma delas funciona como estúdio de música, solução que aproxima o jovem da convivência familiar. A área gourmet também ganha destaque: são duas churrasqueiras integradas – uma interna a carvão e outra externa a gás, permitindo recepções amplas e bem equipadas.
Na paleta, materiais nobres reforçam o clima de elegância atemporal: lâmina de nogueira em alto brilho, travertino navona, ônix green, mármore Aman Grey, latão escovado e laca branca acetinada. “A ideia era compor com elementos naturais e sofisticados, criando um diálogo entre a arquitetura contemporânea e referências históricas”, explica Rodolfo.
Esse diálogo se intensifica com o acervo dos moradores, apaixonados por arte e mobiliário assinado, eles trouxeram para o novo endereço peças de valor afetivo e histórico, que pediram espaços especialmente pensados para elas. Um dos exemplos é a sala de TV, onde a mesa art déco em inox e ônix caramelo — do acervo da família — contracena com poltronas Moleca e Beto de Sergio Rodrigues e sofá Pan Am de Arthur Casas. No mesmo ambiente, nichos foram criados para receber esculturas de Juarez Machado e Francisco Stockinger. A coleção de telas de Antonio Maia ocupa o hall de entrada, enquanto o corredor do mezanino ganhou função de galeria, solução arquitetônica para lidar com a escassez de paredes na construção original. Obras de Chen Kong Fang, Aldo Bonadei, Carlos Eduardo Zimmerman e Celso Orsini completam esse acervo.
No segundo pavimento, a suíte master ocupa quase metade do andar e se organiza a partir de um foyer de distribuição que conduz à academia privativa, ao quarto, ao closet e ao boudoir da moradora — um espaço exclusivo para cuidados de beleza, separado da área de banho. A organização garante privacidade e funcionalidade, permitindo, por exemplo, que um dos parceiros saia do ambiente sem incomodar o outro.
Entre as peças de mobiliário assinadas, destacam-se ainda as banquetas de Gustavo Bittencourt na cozinha, abajures de Dominici e Sérgio Rodrigues, o aparador de jacarandá do lounge e as poltronas Beg (outro xodó dos moradores). Os tapetes Aubusson do início do século XX, o lustre tcheco herdado de quatro gerações e as arandelas Farol da La Lampe reforçam a atenção aos detalhes.
A escada helicoidal, executada em concreto armado com revestimento de laca branca e degraus de travertino navona, é um dos elementos de maior impacto visual — realçada pelo guarda-corpo em vidro curvo. Já o lavabo, com painéis de latão e vidro canelado retroiluminado, revestimento de teto em tela tensionada e iluminação cênica, se apresenta como uma “caixinha de surpresa”, nas palavras do arquiteto, evocando um retrofuturismo alinhado ao espírito do projeto.
Outros espaços expressam os hobbies dos moradores: o mezanino abriga um lounge bar para audições de discos de vinil, com automação sonora presente inclusive na sauna e na adega — esta última acompanhada de um humidor para os charutos do morador. A prataria da esposa, por sua vez, ganhou protagonismo em uma cristaleira feita sob medida.
O Projeto Garden Victor traduz o desafio de criar, dentro de um edifício, um lar com alma de casa. “Era fundamental que a experiência cotidiana dos moradores fosse fluida, personalizada e conectada à memória afetiva da família”, resume Rodolfo Fontana.
