Artigo de Isailton Reis*
Tenho citado, estudado e observado, o comportamento humano em relação ao mundo organizacional. Nos estudos de Mestrado, refletir sobre a influência dos comportamentos empreendedores nas práticas de gestão de pequenas empresas. Em sequência, nos estudos iniciais do “doutoramento”, busquei identificar a influência do comportamento organizacional nos resultados da inovação. Além destes formais espaços acadêmicos de discussão, ao realizar formações como consultor do DISC (ferramenta para avaliação do perfil comportamental) e/ou em cursos de gestão de pessoas, tenho aprendido e utilizado ferramentas que ajudam a entender o comportamento e relações das pessoas em seu ambiente de trabalho.
Nestas experiências ratifico a importância do uso destas ferramentas, mas as vejo tão somente focadas naquilo que é observável e mensurável do comportamento das pessoas nas organizações.
Ao longo desde mesmo período, face ao olhar de psicanalista, convenço-me que por mais que estas ferramentas auxiliem no processo de condução humana nas organizações, sozinhas, não dão conta de compreender, as ricas e complexas formações caraterísticas da psique humana, por trás de todas as expressões comportamentais analisadas por estes instrumentos. Características estas que muitas vezes direcionam fortemente as atitudes destes. Buscar compreender o ser humano além do seu comportamento manifestado no ambiente de trabalho, interrogando-se sobre os motivos que possam lhes influenciar, poderá ajudar muito aos líderes organizacionais, na relação com as pessoas com quem trabalha. Este campo de conhecimento e investigação é característico da Psicanálise.
Ao defender o saber psicanalítico, não estou advogando que os líderes devem tornar-se psicanalistas, nem que a cada desafio organizacional, eles e seus colaboradores sejam convidados a um divã. Não. Esta não é a questão aqui. O que acredito é que, este saber, pode nos tirar das análises baseadas exclusivamente na racionalidade instrumental das posturas no ambiente organizacional e nos levar a considerar outras dimensões humanas… Pode levar a posturas, onde um líder, por exemplo, busque ouvir mais seus liderados. E de suas falas – palavra chave no campo psicanalítico – possam até identificar o que está por trás dos comportamentos apresentados, pois há algumas histórias não são diagnosticadas nas ferramentas de avaliação utilizadas. O ouvir seu discurso, não requer, por parte do líder, fazer terapia com o colaborador, mas buscar ao menos ouvi-lo… Neste contexto, motivos não faltam para entender algumas concepções do saber psicanalítico, por exemplo: o homem como um ser com emoções, em constante conflito interno, incompleto e sempre “desejante”. O ser do Inconsciente… Por outro lado, como prática, a Psicanálise, utilizando-se de seus princípios da clínica que preconiza entre outros, ouvir e tratar o desejo, poderá contribuir com estudos e práticas no ambiente organizacional.
Por fim, é bom lembrar que ao defender-se o saber e prática psicanalítica como importante ferramenta no ambiente organizacional, não se está defendendo aceitar a postura do “faço desta forma por que é inconsciente”. Não. Como destacaria Dr. Jorge Forbes (psicanalista e psiquiatra), o ato da pessoa, mesmo com a existência e influência do inconsciente, sempre guardará sua responsabilidade a ser assumida. E no mundo organizacional, responsabilidades assumidas devem gerar resultados. Neste aspecto também, a psicanálise poderá ajudar a envolver, implicar, o indivíduo em seu ambiente.
*Gerente Regional Sebrae Feira de Santana; Mestrado em Gestão Empresarial. Economista e Psicanalista
Autor dos livros: Gestão Empreendedora; Deu a Louca nos Contos de Fada; Nos passos do Poeta: Poesias, prosas e imagens de um caminhar.