É preciso investir em uma vida com qualidade, na perspectiva do futuro, com o olhar numa caminhada mais longa
por Josué Mello
Abordar o tema da sustentabilidade no 2º número da revista é, em verdade, uma sábia Sacada, em face das exigências do planeta, do meio ambiente e, principalmente, da própria vida humana. Como bem diz o poeta e cantor mineiro Milton Nascimento, “Há que se cuidar do broto/para que a vida nos dê flor e fruto”.
A vida é nosso bem maior e todos desejam preservá-la sempre saudável e geradora de alegrias e felicidades. Por isso urge sempre buscar formas e alternativas novas, que possibilitem o alcance da convivência humana, da harmonia com a natureza e com os demais seres do universo.
É preciso investir em uma vida com qualidade, na perspectiva do futuro, com o olhar numa caminhada mais longa, tendo em vista a geração atual e as gerações que estão por vir, pois há um cenário sombrio para a vida humana, constatação que angustia a todos, com fortes ameaças de destruição, de desvalorização e banalização da vida.
Como observa o teólogo Leonardo Boff (2003), a capacidade do homem de intervenção na natureza foi tão profunda que desequilibrou todos os ecossistemas e a própria forma de vida no planeta Terra. As forças produtivas se transformaram em forças destrutivas e já não garantem a sobrevivência do ser humano. A própria construção civil, propulsora da economia, de indiscutível importância para o desenvolvimento, tem sido apontada como um dos vetores que mais impactam o meio ambiente, na medida em que se utiliza de materiais não renováveis e de produtos nocivos à vida humana.
No entanto, há outros cenários que merecem ser analisados, igualmente realistas, sinalizadores de novos caminhos e indicadores de novas esperanças para a humanidade. Vale refletir sobre os avanços do conhecimento, das ciências e da tecnologia nessas últimas décadas. Está em curso, por exemplo, um acelerado processo de longevidade da vida humana.
A minha geração não conheceu bisavós, mas, atualmente, é comum as pessoas se tornarem avós ainda na flor da idade e bisavós em plena força de trabalho. O índice de longevidade no Brasil saltou de 45 para 75 anos em pouco mais de meio século. E o que se projeta para os próximos 30 ou 50 anos é simplesmente fantástico, com base em pressupostos da tecnologia e da ciência.
A Universidade do futuro, sediada no Vale do Silício (EUA), é liderada pelo físico Ray Kurzweil, que acaba de publicar pesquisas efetuadas no genoma humano, consubstanciadas no livro A singularidade está perto. A tese indica projeções alvissareiras para o futuro da humanidade. Os estudos do genoma humano já indicam, por exemplo, a possibilidade de se decifrar todo o código genético do ser humano, permitindo evitar doenças, reconstruir toda a árvore genealógica dos nossos antecedentes e selecionar os genes que gostaríamos de transferir para os nossos filhos.
Com base nesses avanços científicos, já se anuncia o fim da humanidade mortal e o nascimento da pós-humanidade, com a possibilidade de cura para todas as doenças e renovação permanente das células. A partir disso, será possível deter, inclusive, o processo de envelhecimento, fazendo com que a longevidade humana chegue a índices de 200, 300 ou 500 anos. Obviamente, para os que souberem cuidar da saúde e da qualidade de vida.
Nesse contexto, insere-se o desafio da sustentabilidade, inclusive na construção civil, na edificação de cidades, prédios e habitações saudáveis, capazes de gerar saúde, harmonia, convivência, bem estar da família e vida longa. Desafiados pelas ameaças destruidoras do nosso tempo, os homens criaram novas ciências, como, por exemplo, a geobiologia e a bioarquitetura.
Com foco na sustentabilidade, essas ciências oferecem fundamentação teórica a movimentos diversos, como as Cidades Saudáveis (OMS), a Vez das Árvores (iniciativa privada), Casas Saudáveis e outros projetos de construção sustentável já executados ou em execução. Tais iniciativas foram implementadas em diversas partes do mundo, inclusive em nosso país e em Feira de Santana.
Conferências nacionais e internacionais abordam a questão da sustentabilidade em grande estilo. As Universidades incluem a temática em suas produções acadêmicas e a população assume, pouco a pouco, a consciência da mudança. A indústria produz materiais renováveis e torna-se possível a utilização do concreto reciclado na construção civil, o aproveitamento da água das chuvas, a reciclagem dos resíduos sólidos e a absorção de fontes renováveis de energia. Alastra-se também o gosto pelo verde, ensejando a formulação de certificações, como a Green Building Council Brasil e a Certificação Brasileira, do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, criado em 2007.
Todos nós almejamos vida longa, porém com saúde, felicidade e qualidade. Para tanto, vale seguir a máxima da Rio-92: “pensar global e agir localmente”. O objeto central é a vida. A estratégia mais sábia está na preservação do meio ambiente, na promoção do desenvolvimento com responsabilidade social e no aproveitamento dos recursos naturais com racionalidade, fomentando a cultura da sustentabilidade no seio da sociedade. Certamente isso há de resultar na construção de um mundo novo, constituído de cidades humanizadas, moradias saudáveis, vidas longas e felizes. A sustentabilidade, assim concebida e vivenciada, torna-se o penhor de nossa esperança.
Matéria publicada na versão impressa da revista Sacada