A arquitetura sustentável tem por dever não só criar projetos que minimizem os impactos gerados ao meio ambiente, mas, especialmente, integrá-los aos ciclos naturais da biosfera
por Milla de Oliveira – Arquiteta
Ao longo do tempo, a sociedade vem tomando consciência da crescente degradação da natureza. Decorrente do processo de desenvolvimento humano, o impacto ambiental é que faz surgir a necessidade de um novo conceito, o de sustentabilidade.
O desenvolvimento sustentável está presente em diversos setores. A arquitetura de caráter sustentável, por exemplo, utiliza algumas medidas essenciais dentro de sua área, a fim de reduzir os danos ao meio ambiente e proporcionar ao ser humano conforto térmico, luminoso ou acústico, garantindo às futuras gerações um mundo menos poluído.
Muitos conceitos importantes para a definição de uma arquitetura sustentável estão presentes nas premissas básicas do conforto ambiental, que considera aspectos como insolação, ventos dominantes, características do entorno e uso da edificação antes mesmo de decidir a espessura das paredes, a dimensão das aberturas e os materiais que serão empregados.
É impraticável, no entanto, a elaboração de um projeto 100% sustentável. O que é possível fazer é agregar alguns elementos. O uso de madeira de reflorestamento é muito mais sustentável do que o aço, por exemplo. E, às vezes, um pequeno detalhe faz toda a diferença.
A utilização de vidros transparentes proporciona maior penetração de luz; ambientes voltados para o norte resultam em espaços mais arejados; marquises ajudam a proteger determinados cômodos e oferecem sombra, reduzindo a necessidade do uso de iluminação artificial e de ar condicionado. Além disso, formas alternativas de energia e a reciclagem da água são elementos essenciais no processo de preservação dos recursos naturais.
Atualmente, existem diretrizes de sustentabilidade que funcionam como ferramentas na elaboração de projetos arquitetônicos. Capazes de amenizar o impacto das construções sobre o meio ambiente, algumas delas vêm sendo exaustivamente pesquisadas por estudiosos vinculados à arquitetura, ao urbanismo, à engenharia civil e áreas de conhecimento afins, todos preocupados com o agravamento dos problemas ambientais nas últimas décadas.
Especificamente no campo da arquitetura, destacam-se os sistemas de refrigeração passiva, as fontes alternativas de energia, a reutilização da água de chuva, o reuso de águas servidas, a reciclagem de materiais de construção e a utilização de materiais alternativos.
A tecnologia também é uma forte aliada no processo de desenvolvimento de projetos sustentáveis. Na área de iluminação, por exemplo, é possível contar com o sistema LED, que consome pouca energia. Há também os vidros inteligentes, que têm o poder de absorver calor, e as placas de armazenamento de energia solar.
A implantação desses sistemas, porém, ainda têm um alto custo. E, em função disso, muitos clientes acabam resistindo ao emprego dessas alternativas sustentáveis. Cabe ao arquiteto, então, o desafio de convencer sua clientela, mostrando a importância e o custo-benefício a médio e longo prazos.
Em linhas gerais, a arquitetura, em sua essência, tem o papel fundamental de amenizar os problemas ambientais e de gerar e manter o bem-estar da sociedade, agenciando meios que assegurem a satisfação dos aspectos sociais, culturais e econômicos.
A arquitetura sustentável tem por dever não só criar projetos que minimizem os impactos gerados ao meio ambiente, mas, especialmente, integrá-los aos ciclos naturais da biosfera, de forma a criar efeitos positivos, sendo um agente renovador, reparador e restaurador.
Matéria publicada na versão impressa da revista Sacada