Bolha imobiliária, quando?

Apesar de alguns momentos inspirarem cautela para uma tomada de decisão, o país ainda demonstra força para manter o crescimento e a estabilidade econômica 

Foto: divulgação

por Albertony Assis

Todo ano é a mesma coisa. Mal entro em sala de aula e um aluno mais empolgado vem com a célebre declaração: “Professor, a Bolha Imobiliária vai estourar a qualquer momento.” E lá se vão alguns minutos, ou até mesmo horas, confabulando sobre o tema. Sempre procuro tratar o assunto de forma agradável, buscando amparar as minhas colocações nas diversas correntes que surgiram nos últimos seis anos.

Como acadêmico, acredito na colocação de Henry Ford: “O mercado nunca é saturado com um produto bom, mas é muito rapidamente saturado com um produto ruim”. Tal fenômeno é facilmente percebido em países economicamente estáveis, nos quais todas as necessidades básicas estão supridas, fazendo com que os objetos simplórios deixem de ser prioritários junto à comunidade economicamente ativa, que parte em busca de melhores opções no momento da compra.

Mas estamos no Brasil, país onde a desigualdade social impera. Assim, quando falamos em Bolha Imobiliária, cabe fazer uma separação da amostra a ser discutida e analisada. Se tomarmos por base a análise de Maslow e sua famosa “pirâmide das necessidades”, perceberemos que casa, como moradia, está colocada como fator de segurança, como necessidade essencial da nossa nação.

Partindo desse contexto, é importante ressaltar que o Brasil vive, nos últimos anos, uma inédita facilidade de crédito imobiliário, que, juntamente com a atual taxa de empregabilidade, forma um cenário de facilidades para um grande número de brasileiros. O Crédito fácil possibilita a aquisição da tão sonhada casa própria. Por outro lado, mais gente comprando imóveis implica em aumento da procura e, consequentemente, em elevação de preços.

Para o público que sonha com a casa própria, a Bolha está longe de estourar. Mas se pararmos para analisar outros elementos do setor, perceberemos, sim, algumas variações de cenário. Para muitos, essas alterações podem ser apontadas como Bolha. Todavia, em minha opinião, é apenas uma mera acomodação de mercado.

Dentre as análises feitas nos últimos anos, alguns escritores destacam-se em função dos critérios de comparação em seus estudos. Um deles é Ricardo Amorim, economista, presidente da Ricam Consultoria e apresentador do programa Manhattan Connection, da Globo News. Para escrever seu artigo a respeito do tema, ele usou a comparação de alguns índices econômicos e de consumo de matérias.

No Brasil, de acordo com Amorim, apesar do crescimento dos últimos anos, o crédito habitacional ainda é de apenas 7% do PIB, percentual que está muito distante do que costuma ser o mínimo quando Bolhas Imobiliárias estouram, ou seja, 50% do PIB.

Mesmo considerando a expansão dos últimos dois anos, que foi de 1,4% do PIB ao ano, tida como a mais rápida da nossa história, levaríamos mais de 30 anos para chegar a 50% do PIB, a exemplo de outros países no ápice da crise de 2008. Isto pode ser interpretado como um sinal de calmaria, muito embora, em um país como o Brasil, nenhum índice seja certeza de tranquilidade.

Para uma melhor visualização, o gráfico abaixo mostra a evolução do crédito no Brasil nos últimos anos e a estimativa de atingirmos 11% do PIB até o final de 2014.

Para avaliar o temido fenômeno da Bolha, outro índice de comparação bastante interessante é o custo dos imóveis brasileiros em relação ao resto do mundo. Das 50 cidades mais caras do planeta, 49 estão em países emergentes, incluindo o Brasil, que entra na lista com quatro capitais:

Brasília – 10ª
Rio de Janeiro – 25ª
Belo Horizonte – 43ª
Porto Alegre – 45ª

Em compensação, Salvador, que é um referencial bem próximo de nossa realidade, não está entre as 100 cidades mais caras do mundo. E Fortaleza é uma das dez cidades fora dos Estados Unidos que estão entre as 50 mais baratas do mundo.

Entre os 385 maiores mercados imobiliários globais, a classificação média das 11 cidades brasileiras incluídas foi 124ª. Isto sugere que o mercado brasileiro como um todo está um pouco mais caro do que a média. Ainda assim, está distante dos mais caros do planeta. Em relação aos mercados emergentes, o Brasil está mais barato do que a média, segundo Amorim.

Em resumo, apesar de alguns momentos inspirarem cautela para uma tomada de decisão, o país ainda demonstra força para manter o crescimento e a estabilidade econômica. Mesmo com algumas altas, prováveis na maioria dos casos, ou manutenção de preços, o risco de estouro imediato de uma Bolha Imobiliária nacional ainda é baixo.

Analisando a realidade de Feira de Santana, constatamos que ainda temos alguns anos de desenvolvimento e expansão de mercado para suprir as necessidades da maior cidade do interior do estado, pelo menos no que diz respeito à habitação. Sendo assim, se você nutre a esperança de ver os preços despencarem para só então comprar, desista. Conforme Platão, “coragem é saber o que não temer”.

Matéria publicada na versão impressa da revista Sacada

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