
A CASACOR Bahia 2025 amplia seu escopo como mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo ao manifestar um compromisso cada vez mais evidente com as artes visuais. A edição deste ano consolida a intenção de posicionar a mostra também como referência no circuito de arte de Salvador, apostando em curadorias autorais, parcerias com galerias e seleções exclusivas que transformam os ambientes em espaços de fruição estética e reflexão simbólica. Em muitos casos, as obras deixaram de ser elementos decorativos para se tornarem parte indissociável do discurso arquitetônico, expandindo o campo da percepção e revelando uma nova camada de leitura dos projetos. Enquanto alguns ambientes contaram com curadores profissionais ou galerias especializadas, outros tiveram a curadoria conduzida pelos próprios arquitetos e designers, que assumiram com propriedade a tarefa de integrar a arte à narrativa de seus espaços.
“Acreditamos que a arte não deve estar restrita às galerias ou museus: ela precisa circular, provocar e habitar os espaços do cotidiano. Nosso objetivo é que a CASACOR Bahia seja cada vez mais reconhecida não apenas como uma mostra de arquitetura e decoração, mas como um polo de cultura viva, um território onde artistas, curadores, designers e o público se encontram em torno de experiências significativas e transformadoras”, comenta Magali Santana, diretora da CASACOR Bahia.

Entre os ambientes que optaram por curadoria profissional, há uma diversidade de abordagens que revelam a pluralidade de linguagens e intenções artísticas presentes na mostra. No Living Carmel, Daniela Lopes firmou parceria com a Penacal Galeria para compor uma seleção de obras que articula o diálogo entre o clássico e o contemporâneo, reforçando a identidade nacional. Neto Cunha, no Café Lounge Florar, convidou o artista Igor Vidor para assinar a curadoria, que inclui a instalação “Flor” e outras obras potentes sobre afeto, resistência e transformação. Já o espaço Galeria de Arte Mário Brito, de Frederico Jordan, Celeste Leão, Pedro Mahcario, trazem a curadoria de Mario Brito e um recorte da arte nordestina em sintonia com materiais naturais e mobiliário orgânico.
Esse movimento de convidar curadores externos marca uma inflexão no papel da arte dentro da mostra. Em vez de funcionar apenas como adorno, a arte passa a ser um vetor narrativo, capaz de introduzir camadas de leitura e expandir o sentido do espaço. O curador, nesse contexto, se torna coautor do projeto, propondo fricções entre estética e política, sensorialidade e crítica, afeto e memória. O olhar curatorial externo desestabiliza o repertório habitual da decoração e tensiona o conforto visual com provocações simbólicas e discursivas. É um gesto que reafirma a maturidade conceitual dos ambientes e a abertura da mostra para diálogos mais complexos com o campo artístico.
Além de intensificar o valor simbólico dos espaços, a curadoria na CASACOR Bahia também opera como uma plataforma estratégica para a valorização e circulação de obras de arte no mercado. A presença de galerias estabelecidas, como a Penacal, RV, Usina, Mário Brito e Zeca Fernandes, aliada à visibilidade da mostra, amplia as possibilidades de projeção para artistas, especialmente os emergentes e aqueles ainda fora dos circuitos tradicionais de consagração. Os ambientes se tornam vitrines para colecionadores, curadores institucionais e profissionais do setor, ativando conexões que extrapolam os limites do evento e reverberam em feiras, residências, acervos e aquisições. A mostra, nesse sentido, não apenas expõe arte: ela movimenta o ecossistema artístico da cidade, fomenta parcerias, visibiliza narrativas periféricas e contribui ativamente para o fortalecimento da economia criativa local.

A AVE Bilheteria, assinada pelos NN Arquitetos, exemplifica essa abordagem ao incorporar esculturas de Osmundo Teixeira e obras geométricas de Guel Silveira, com curadoria da Zeca Fernandes Galeria de Arte, articulando espiritualidade e ritmo visual. No Atelier Acervo Arte e Bossa, Gabriel Gois firmou parceria com a Galeria M Depósito de Arte para homenagear o artista sergipano Véio, em um gesto afetivo de conexão entre territórios e memórias. O Restaurante Massa, projetado por David Bastos, expõe 105 obras selecionadas em colaboração com Paulo Darzé, entre elas nomes fundamentais da arte brasileira como Carybé, Pierre Verger e Lasar Segall. Já a Suíte Entrelaços, de Nath Veloso, contou com as galerias RV e Usina para trazer obras de artistas como Marcos da Matta, que articula linguagem visual e religiosidade do Recôncavo baiano. Outras parcerias importantes se destacam, como a da Avelo Arquitetura com a Acervo Galeria e a Usina Galeria, no Living Vitória-Régia; a de Gabriel Magalhães com Gabriela Daltro e as galerias Pena Cal e Usina, na Casa Madre; e a de Mázia Arquitetura com a artista Mabell Fontes, no tocante e simbólico ambiente Rito Selvagem.
O Espaço D’Arte, de Wesley Lemos, integra arte contemporânea, arte popular e símbolos da religiosidade afro-brasileira, como o nanquim de Leila Wysocki que retrata Exu, reafirmando a diversidade cultural e religiosa. A curadoria também valoriza práticas sustentáveis, com obras de baixo impacto ambiental e técnicas artesanais, como as pinturas com argila de Fernando Bernardes e as esculturas em madeira e metal de Mili Genestreti, traduzindo um posicionamento estético e ético que celebra a multiplicidade brasileira
Complementando as curadorias dos ambientes, a CASACOR Bahia abriga exposições em suas áreas de circulação, reforçando seu papel como plataforma para a arte contemporânea. No térreo, a mostra Geometria 7.0 homenageia os 70 anos do artista baiano Guel Silveira, reunindo 17 obras em torno de uma investigação rigorosa sobre forma, textura e materialidade. “É muito gratificante participar dessa atmosfera que respira e transpira arte”, afirma o artista.
Também no térreo, a loja Artesanato da Bahia valoriza os saberes manuais e a identidade regional. No primeiro andar, a Galeria Usina apresenta obras de artistas contemporâneos, conectando diferentes gerações e linguagens. Essas mostras expandem a experiência do visitante e reafirmam a CASACOR como um espaço onde arte, arquitetura e mercado se entrelaçam de forma estratégica e sensível.

Nos ambientes com curadoria assinada pelos próprios profissionais, a CASACOR Bahia revela a força de um olhar autoral e íntimo sobre a arte. Na Sala da Renúncia, o artista e arquiteto Hugo Ribeiro selecionou obras que instigam sensações e espiritualidade, como a tapeçaria de Renan Stivan, obras inéditas de Arthur Rios e a impactante “Vertigem”, de Luiz Luna. João Gabriel, no Ateliê de Tebas, compôs uma narrativa visual pautada na ancestralidade negra e no seu apagamento histórico, com obras de artistas como Emerson Rocha, Elson Junior e Mario Vasconcelos. No Family Room, Ian Carvalho construiu uma seleção afetiva, centrada em símbolos de memória e herança familiar, como a intervenção de Gustavo Maciel, esculpida diretamente na parede, e a tapeçaria de Dana Wig. Já no Lavabo Terra e Sala, Andressa Matos articulou obras de artesãos baianos com forte caráter regional, com apoio da consultora Olindina Guedes. E em Entre Ondas, o primeiro ambiente concebido por alunos da Escola de Belas Artes da UFBA, Bruna Dória conduziu uma curadoria crítica e feminista, reunindo artistas mulheres ligadas à instituição, como Maria Adair, Graça Ramos, Viga Gordilho e Sandra De Berduccy.
Esses projetos mostram que a ausência de um curador externo não significa ausência de curadoria — pelo contrário, revelam a maturidade dos profissionais em estabelecer conexões sensíveis e conscientes entre arte, espaço e discurso. Em muitos casos, o envolvimento direto dos autores do ambiente na seleção das obras resulta em narrativas profundamente alinhadas ao conceito do projeto, com escolhas carregadas de simbolismo e coerência estética.
A pluralidade de artistas presentes na mostra reforça esse compromisso com a arte como elemento estruturante dos espaços. Estão representados nomes históricos e contemporâneos, locais e nacionais, consagrados e emergentes: Calasans Neto, Ricardo Sena, Véio, Arthur Rios, Luiz Luna, Marcos da Matta, Emerson Rocha, Rynnard, Leandro Estevam, Mabell Fontes, Gustavo Maciel, Maria Adair, Viga Gordilho, Graça Ramos, Sandra De Berduccy, Sil da Capela, Mestre Nicola, J. Paulo Mota, Claudia Andujar, Cristina De Middel, entre muitos outros. As obras circulam entre suportes diversos — escultura, pintura, tapeçaria, instalação, cerâmica, fotografia, bordado — e trazem temas que passam pela ancestralidade, espiritualidade, corpo feminino, crítica social, natureza e memória.
Ao assumir a arte como linguagem estruturante, e não apenas ornamental, a CASACOR Bahia avança no fortalecimento de sua identidade como mostra cultural de amplitude expandida. Em diálogo com as práticas curatoriais contemporâneas, os ambientes deixam de ser apenas espaços de contemplação estética e tornam-se campos de provocação, experimentação e pensamento. A arte, enfim, ocupa seu lugar central — e o visitante, seu papel ativo como leitor sensível dessas múltiplas camadas.
Sobre a CASACOR
Empresa do Grupo Abril, a CASACOR é reconhecida como a mais completa plataforma cultural de arquitetura, paisagismo, arte e design de interiores das Américas. O evento reúne, anualmente, renomados arquitetos, decoradores e paisagistas e em 2025 chega à sua 31ª edição na Bahia, na Casa Nossa Senhora das Mercês, um dos edifícios mais antigos de Salvador, no coração da cidade.