Sustentabilidade na construção civil: menos impacto ambiental e custo-benefício vantajoso

Em Feira de Santana, políticas públicas ou projetos de desenvolvimento sustentáveis agora contam com um conselho voltado para a formulação, consulta ou deliberação 

Palácio de Buckingham, empreendimento residencial projetado para gerar um menor impacto ambiental

por Louise Farias

A construção civil é uma das principais molas propulsoras da economia mundial e, no Brasil, tem contribuído bastante para o seu desenvolvimento. No entanto, a economia e o meio ambiente devem caminhar juntos para a consolidação da sustentabilidade na sociedade, já que a expansão urbana atinge todo o planeta e tem provocado a ocorrência de fenômenos climáticos.

De acordo com o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, criado em agosto de 2007, para induzir o setor da construção a utilizar práticas mais sustentáveis, o ramo que mais emprega no Brasil também é um dos maiores produtores de resíduos. Por isso a necessidade de que as empresas tomem algumas medidas para inverter os atuais papéis exercidos pela construção civil no contexto ambiental.

Uma construção sustentável é aquela que utiliza materiais e tecnologias biocompatíveis a fim de que não agridam o meio ambiente durante o processo de obtenção, fabricação, aplicação e em toda a sua vida útil. São exemplos de atitudes sustentáveis em uma obra: a utilização de energias limpas, como a solar e a eólica; a redução do consumo de água, com o reuso e aproveitamento da água de chuva; a destinação de áreas para coleta seletiva do lixo e a criação de ambientes saudáveis, utilizando tecnologias para regulação de acústica e temperatura.

O grande entrave para a consolidação dessa “visão sustentável” no setor de construção civil é a dificuldade em relação aos custos, considerados elevados, de determinados elementos que permitem o enquadramento do empreendimento nesse conceito.

No entanto, pesquisas recentes indicam um aumento de cerca de 5% nos gastos nesse tipo de processo de construção. Porém a economia com água e energia, a médio e longo prazos, gira em torno de 30%, compensando, assim, os gastos extras. A postura consciente ainda caracteriza a empresa como preocupada com a situação do planeta e passa essa imagem para o público, tornado o custo-benefício ainda mais vantajoso.

Em Feira de Santana, políticas públicas ou projetos de desenvolvimento sustentáveis agora contam com um conselho voltado para a formulação, consulta ou deliberação. O Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável, empossado no segundo semestre de 2014, é composto por 18 representantes de entidades governamentais e não governamentais.

Cabe ao órgão promover o desenvolvimento sustentável do município, assegurando a efetiva participação de representantes dos diversos movimentos sociais; executar, monitorar e avaliar as ações previstas no Plano Municipal de Desenvolvimento Sustentável; formular políticas públicas voltadas ao segmento; aprovar e compatibilizar a programação físico-financeira anual; e articular-se com municípios vizinhos.

O conceito de sustentabilidade nas construções tem ganhado força em Feira de Santana. Algumas edificações estão sendo projetadas para gerar o menor impacto ambiental possível. É o caso do Palácio de Buckingham, empreendimento residencial de alto nível, com 25 andares, que será instalado no bairro Santa Mônica. As construtoras Marinho e EPP Empreendimentos vão utilizar o método da arquitetura sustentável, que concebe uma obra procurando otimizar recursos naturais, causando menos danos ao meio ambiente e aos seus habitantes.

O residencial contará com ventilação cruzada, garantindo um aproveitamento racional dos recursos necessários para ventilar os ambientes, além de iluminação estratégica, monta-carga para subir compras, economizando, assim, a energia do elevador, e a utilização da energia solar para aquecimento de água.

O projeto do Condomínio Villagio IL Campanário, realizado pelas construtoras Topo e JOC Construção e Incorporação, é assinado pela arquiteta Ana Cristina Monteiro e também está embasado no princípio da sustentabilidade. Com obras iniciadas em agosto do ano passado, o novo empreendimento preocupa-se com a responsabilidade social, visando suprir as necessidades dos moradores sem comprometer o futuro das próximas gerações. O IL Campanário vai utilizar energia solar, além de distribuir cartilhas de conscientização ambiental e orientar o descarte do lixo, colocando em prática a coleta seletiva.

O aquecimento da água através da luz solar é uma opção eficiente, pois evita o desmatamento de 215 quilos de árvores por ano, além de economizar 66 litros de diesel anualmente. Também evita a inundação de 56 metros quadrados de terras para a formação de usinas hidrelétricas e economiza 73 litros de gasolina por ano.

Os aquecedores trabalham com energia ecológica, natural e gratuita. Os coletores captam o calor do sol e aquecem a água no seu interior. A água aquecida fica acumulada no armazenador térmico, podendo chegar a 72 graus. Basta abrir a torneira para ter água quente, tanto durante o dia quanto à noite.

Quando o consumo for superior ou o calor for insuficiente, o aparelho possui um sistema elétrico auxiliar automático, que mantém a água sempre quente. Durante um ano, esse sistema auxiliar funciona cerca de 20 a 40 dias. Luiz Augusto Barretto, proprietário da Luizão Aquecedores e Manutenção Hidráulica, empresa especializada em implantar aquecedores de água em Feira de Santana, diz que a cidade tem aceitado o produto. “A instalação é feita em casas, edifícios, hotéis, motéis, clínicas de fisioterapia e também em academias, para o aquecimento de piscinas. A maior parte das instalações em Feira de Santana é realizada em residências de consumidores das classes A e B. No entanto, o Governo Federal pretende estimular o consumo de aquecimento de água nos empreendimentos do Minha Casa Minha Vida”, afirma.

As vantagens da implantação do sistema de aquecimento de água por meio da energia solar são: a economia no consumo de energia elétrica, que fica em torno de 35%; a durabilidade do produto, que tem vida útil de dez anos; e o retorno do investimento em curto prazo, por volta de dois anos.

A substituição da energia elétrica pela solar também é um exemplo de sustentabilidade nas construções, já que se trata de uma fonte renovável e limpa, proveniente da luz do sol. Com ela, evita-se a construção de novas hidrelétricas, o que resulta na perda da fauna e da flora, na inundação de terras utilizadas para a agricultura e pecuária, além da perda do patrimônio histórico e relocação de famílias. A energia solar também contribui para a redução da emissão de carbono, largamente produzido pelas usinas termoelétricas.
Em casas que possuem o sistema de energia solar, é possível contar com energia elétrica durante 24 horas. O calor receptado pelos coletores pode ser utilizado para aquecimento de água, consumo doméstico ou industrial, aquecimento de ambientes e de piscinas. Os edifícios são ideais para a instalação das placas de energia solar. A conversão da luz solar em eletricidade pode atender parte de suas necessidades energéticas.

O proprietário da loja Raio do Sol Energia Solar, Hélio Sena Carvalho, diz que, em Feira de Santana, a procura pelo sistema isolado é superior ao do micro gerador. “Isto se deve principalmente ao alto custo do equipamento que gera energia de força. Enquanto a média de venda mensal do sistema isolado é de duas a três unidades, nenhum micro gerador foi vendido até o momento”, avalia.

Outra empresa da cidade que aposta na sustentabilidade na construção civil é a OS2 Engenharia e Consultoria. Com mais de 10 anos no mercado, a corporação viabiliza soluções em engenharias consultivas nos mercados da construção civil, engenharia ambiental, engenharia de segurança ocupacional e na proteção da água, bem maior da sociedade. Seu portfólio estende-se desde a gestão de consumo, tratamento e controle de água para fins de potabilização até utilidades industriais e tratamento de e fluentes, inclusive para reuso.

De acordo com Olavo Sena, diretor da OS2, é preciso investir mais em edificações ecologicamente corretas. “Todo empreendimento arquitetônico, para ser sustentável, deve atender a alguns requisitos, como viabilidade econômica, justiça social e adequação ambiental. Portanto, para garantir que um empreendimento seja suportado no paradigma do desenvolvimento sustentável, deve-se envolver vários setores da sociedade, não somente os consumidores e empreendedores, mas também governos e associações. São estes que pressionam e estimulam o setor da construção civil a desenvolver técnicas e ações sustentáveis”.

Segundo Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute, entidade de pesquisa destinada à análise das questões ambientais globais, uma comunidade sustentável é aquela que satisfaz plenamente as suas necessidades, de forma a preservar as condições para que as gerações futuras também o façam. O desenvolvimento sustentável no Brasil caminha para a sua efetiva aplicação. Da mesma forma que o país se constituiu como um promissor mercado para a construção civil, dispõe agora de todas as possibilidades de se destacar como uma nação sustentável.

A revista Sacada torce para que, cada vez mais, essas práticas sustentáveis se tornem realidade em Feira de Santana.

Matéria publicada na versão impressa da revista Sacada

Foto: Divulgação
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