Quando feitas com supervisão técnica, obras em estrutura metálica costumam ser mais rápidas e mais eficientes que as de concreto
Presentes em edificações como prédios e estádios de futebol, as estruturas metálicas podem reduzir o tempo de execução de obra quase pela metade e ainda diminuir o desperdício e os investimentos em mão de obra. Apesar dos benefícios, a utilização do aço em comparação com concreto ainda está em desvantagem, no Brasil.
Isso se deve ao desconhecimento das técnicas adequadas de combate a corrosão e a vibração, garante o diretor da empresa Enpro Estruturas Metálicas Daniel Gordilho Souza. “A garantia do produto só é menor quando o trabalho não é bem feito”, diz. A estrutura metálica, se for recoberta por elementos de fachada, pode ficar até 20 anos sem manutenção, se não estiver exposta à umidade e tiver recebido uma pintura adequada antes da instalação da obra, explica.
A pintura é uma das últimas etapas antes da entrega da estrutura para o cliente na fábrica da Enpro, que executa todos os processos: da concepção do projeto ao fornecimento do material. É no local, que toda a cadeia da construção metálica é feita. São 200 toneladas de estruturas produzidas por mês em uma planta de 15 mil m² que deve ser expandida nos próximos anos. “Pretendemos dobrar nossa capacidade e atingir uma produção equivalente a 16 casas por mês”, anuncia.
O engenheiro civil e sócio proprietário da Almeida e Oliveira Ricardo Almeida, atua há 15 anos à frente de projetos em aço, e projetou um prédio de 12 andares feito principalmente com estrutura metálica. A instalação do esqueleto em aço e laje steel deck contou com 10 profissionais e levou 60 dias. “Para esse mesmo cenário, se fosse em concreto, a estrutura dependeria de quatro meses e 28 pessoas trabalhando para ficar pronta”, diz.
Alto preço é relativo
Apesar dos benefícios, o investimento em uma obra feita com estruturas metálicas é maior em comparação ao concreto. Isso se deve, principalmente por causa do alto preço do insumo e o capital intelectual envolvido. “Por isso, optamos por fazer obras mistas, que combinam concreto e aço, sem perder a qualidade e a industrialização”, diz Daniel.
De acordo com a arquiteta Laís Galvão, o investimento mais alto é uma questão relativa. “De fato, o cliente tem um desembolso inicial mais alto, mas é importante levar em consideração os custos indiretos como tempo de obra, desperdício, alimentação, energia, água e mão de obra”, lista.
O empecilho para aumentar o número de obras com estrutura metálica no Brasil é principalmente cultural, de acordo com Ricardo. “A escola mais tradicional, que utiliza o concreto como insumo principal, gera mais empregos, mas é um sistema pouco industrial e de alto nível de erros e riscos”, diz. “O que falta é o cliente querer fazer, porque quem está migrando para o aço não está voltando atrás”, completa.
Esta barreira cultural também está atrelada às construções brasileiras antigas de estrutura metálica, que não tiveram o devido cuidado e manutenção com proteção, o que gerou insegurança quanto ao uso. “É preciso começar a fazer de um modo diferente para notar que são muitas as vantagens”, completa Laís.
Maquete eletrônica
É de dentro de uma sala cheia de computadores que nascem todos os projetos desenvolvidos na Enpro, em Salvador. Uma equipe de engenheiros utiliza a plataforma BIM para criar as estruturas, adaptar e fazer todas as mudanças necessárias antes de enviar para a fábrica. “Boa parte dos arquitetos utiliza o software, o que torna o processo muito mais rápido”, diz o diretor da empresa Daniel Gordilho Souza. “Na Enpro, toda a nossa comunicação é com a partir da tecnologia BIM”, completa.
BIM significa Building Information Modeling ou Modelagem de Informação da Construção. O programa de computador permite que o projetista modele as edificações com requinte de detalhes e quantificação rigorosa dos materiais. Ou seja, são menos erros e menor sobrecarga de atividade. Com ferramentas BIM ao modificar o projeto em 3D, todos os desenhos e documentos são atualizados e recalculados.
O sistema vem sendo usado por escritórios em todo o Brasil. No exterior, países como Noruega, Alemanha, Singapura e Hong-Kong já utilizam esta tecnologia em projetos-piloto, para o total gerenciamento de suas edificações.
Por Pedro Hijo
Matéria publicada na 10ª edição da Revista Sacada