Bairro SIM: a Pituba do sertão

Josué da Silva conta a origem do bairro que surge como um dos mais recentes e prósperos da cidade de Feira de Santana

Antes, apenas um terreno coberto pela vegetação própria do tabuleiro, encravado na região da antiga fazenda Murici, distrito de Jaíba, oriunda do espólio Francisco Teixeira Santa Rosa. Parte da área fora adquirida pela Igreja Presbiteriana, a outra metade doada pela Prefeitura Municipal, no governo João Durval Carneiro. Nessa área, entre os anos de 1968-70, construiu- se um equipamento social formado por oito prédios, denominado de Centro de Capacitação Profissional de Migrantes, no estilo de uma Universidade Popular, gerido pelo SIM – Serviço de Integração de Migrantes. Uma sociedade civil, de direito privado, sem fins lucrativos, cristã-ecumênica, financiada com recursos externos, captados por seus diretores.

O SIM, nas décadas de 70 e 80, atendeu mais de 23 mil migrantes, em regime de internato trimestral, possibilitando-lhes alfabetização intensiva, tratamento da saúde, documentação civil e capacitação profissional em até dois cursos, principalmente na área da indústria e da construção civil. Era a antecipação do programa Pronatec, amplamente propalado pelo governo federal. Daí surgiu a Escola SIM, transformada posteriormente em Colégio Profa. Tecla Mello, idealizadora e diretora da escola por mais de duas décadas. Diversos programas, igualmente inovadores, audaciosos e gratuitos, foram implementados e estendidos à comunidade ruro-urbana de Feira de Santana, mormente do distrito de Jaíba.

A região que era rural rapidamente se urbanizou. Loteamentos diversos foram abertos no prolongamento da Avenida Getúlio Vargas e nas proximidades do SIM, a exemplo do Loteamento Ipiranga, com lotes espaçosos e ruas largas, bom indicador da visão de futuro de seu proprietário e corretor, Clarindo Pereira Borges, mais conhecido pelo apelido de Dedé Borges, atualmente nome de uma de suas ruas. Com ele, conseguimos abrir a Avenida Centenário, ampla e em duas pistas, em homenagem ao centenário da cidade. Vale dizer que a avenida foi aberta em terrenos do SIM, em áreas do próprio Dedé Borges e de outros vizinhos que almejavam o desenvolvimento local, tudo sem custos de desapropriação para o município.

Natural era, pois, que o SIM – atualmente denominado de INED (Instituto de Educação e Desenvolvimento), ainda por mim presidido, tornasse-se uma referência no local, na cidade, no país e fora dele. Serviu e serve – com as devidas adequações – a milhares de pessoas e famílias com intervenções na educação, na formação de cidadãos, na promoção dos direitos humanos, no processo de desenvolvimento da economia solidária e na salutar convivência ecumênica, sendo considerado o maior projeto social, de caráter ecumênico, do país e da América Latina. Tem sido objeto de pesquisa nas universidades e já resultou em vários Trabalhos de Conclusão de Curso de Graduação (TCC), algumas dissertações de mestrado e duas teses de doutorado. Os habitantes do entorno passaram, então, a ver o SIM como sua referência residencial. O sentimento espontaneamente se alastrou e a região se transformou, em pouco mais de três décadas, no mais moderno, valorizado e cobiçado bairro SIM.

O bairro SIM, portanto, destaca-se como um dos mais recentes e prósperos da cidade de Feira de Santana. De vocação residencial e educacional. Localizado na região privilegiada da cidade, própria para a construção de residências saudáveis, afastada da poluição das indústrias e dos ruídos incômodos do centro comercial.

Um bairro da Zona Leste que avança na direção do mar. De contornos bem definidos. Segundo a Lei Complementar Municipal nº 18, de 08/07/2004, tem como ponto inicial a Avenida Fróes da Mota (Av. Contorno), daí avançando planalto adentro, passando pelo Corredor dos Araçás, comunidade da Vila São Francisco, chegando, quem sabe, ao futuro Contorno, já projetado no plano de expansão urbana do município, ladeado pelas avenidas Artêmia Pires e Noide Cerqueira; esta, considerada uma das maiores e mais modernas avenidas de Feira de Santana e da Bahia.

Um bairro nobre, sem dúvida. Recanto das grandes residências, dos condomínios conceituais e de elevado padrão; entre tantos, destacam-se o Morada do Bosque, o Green Ville, o Bangalay, os condomínios da Damha Urbanizadora, o charmoso IL Campanário, com sua audaciosa proposta de se constituir num pedacinho da Europa em Feira de Santana. Além, evidentemente, dos loteamentos e condomínios populares e de Minha Casa Minha Vida, dos equipamentos especiais já instalados e em processo de construção, como academias de ginástica, academia de tênis, salas de eventos, supermercados, postos de gasolina, igrejas, cemitério, escolas e colégios públicos e privados, Faculdade FTC, a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) hospedada no INED (antigo SIM) e o Parque Shopping Feira, o maior e mais moderno shopping center da cidade, com funcionamento previsto para 2017.

A excepcionalidade do Bairro SIM está, ainda, na sua identidade. Um bairro com raízes, alma, vocação definida: ser recanto residencial saudável, inclusivo, promotor de qualidade de vida, espaço cativante de famosas unidades educacionais. Ostenta um cenário de nobreza na pluralidade, sem elitização. Destinado a ser, hoje e sempre, um bairro promissor, valorizado, distinto como a Pituba o é para os soteropolitanos. Por tudo isso, o SIM é a nossa Pituba. A Pituba do Sertão.

JOSUÉ DA SILVA MELLO*

(*) Ex-reitor da UEFS, professor titular de Ciência Política da UEFS; ex-diretor Geral da FTC e da Faculdade 2 de Julho; vice-presidente do Conselho Estadual de Educação e membro da Academia de Letras, da Academia de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, das Academias de Cultura e de Educação da Bahia e da Academia Nacion.

Matéria publica na versão impressa da revista Sacada.

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