Casa de Jorge Amado

Aberta à visitação desde o dia 14 de novembro de 2014, a casa do escritor baiano tem recebido visitantes de diferentes estados brasileiros 

Foto: Reginaldo Ipê

por Daniela Pereira

Uma mistura de informação, misticismo e poesia. Assim podemos definir a Casa do Rio Vermelho, onde viveram os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai. Localizado no número 33 da Rua Alagoinhas, no Rio Vermelho, o imóvel é dividido em 20 espaços temáticos, onde os visitantes podem acompanhar os vídeos, efeitos sonoros e hologramas, que contam a história do autor baiano e das obras de forma interativa. O número de visitação ainda não foi divulgado pelos coordenadores do local, mas no primeiro domingo após a data de inauguração (14 de novembro/2014), cerca de 300 pessoas de diferentes estados brasileiros e estrangeiros visitaram a Casa.

A residência onde viveram os maiores escritores brasileiros foi cenário de inspiração para muitas obras, conhecidas mundialmente, como Gabriela – Cravo e Canela. “Há uma intensa sensação de que eles ainda moram aqui. Isso é o que mais agrada e chama atenção dos visitantes”, disse Maria João Amado, neta dos escritores e coordenadora de comunicação do local. A turista de Minas Gerais, Alessandra Vieira, de 34 anos, concordou com a declaração da neta dos escritores. “A sensação que a gente tem é que ao entrar em um novo cômodo, vamos nos deparar com eles, bem calmos e serenos. Isso é fantástico”, afirmou.

A sensação descrita pela visitante pode ser explicada diante da quantidade de pertences de Jorge Amado e Zélia Gatai no imóvel. Além dos móveis serem os mesmos usados pelo casal, no local ainda estão expostas roupas e calçados dos escritores, livros, objetos pessoais, como óculos, pijamas, e cartas trocadas entre eles, filhos e netos durante as viagens que fizeram. No quintal da residência, um dos locais mais procurados pelo público, é possível visitar o lugar onde as cinzas do casal foram jogadas e o banco onde Jorge Amado costumava sentar para escrever as obras.

Todo o acervo, que permaneceu guardado por 11 anos, agora está disponível para o público, distribuindo entre os mil metros quadrados do imóvel. Além de saciar a curiosidade dos fãs, com fotografias, roupas, pinturas, presentes e lembranças que compõem as memórias de Jorge e Zélia, os amantes de antiguidade também podem se debruçar nos objetos (bibelôs e pertences pessoais) e brinquedos que marcaram a juventude do escritor baiano. Além disso, os móveis rústicos, as cortinas e até mesmo os pequenos sapos encontrados na fonte da parte externa transmitem a sensação de estar em antigas residências do interior.

No entanto, a modernidade também não fica de fora do imóvel. Nos 15 ambientes, foram montadas telas de LED e som, nas quais o visitante pode assistir a vídeos inéditos do casal, ouvir depoimentos de amigos e trechos da obra de Jorge.

No espaço “Infância”, fotografias e brinquedos da família de Jorge estão expostos. Quem visita o espaço pode acompanhar, em áudio gravado pelo próprio escritor, experiências sobre o aprendizado da leitura. No quarto “Os Viajantes”, estão expostas lembranças das tantas viagens feitas pelo casal. Nas gavetas, mensagens trocadas por Zélia e Jorge, escritas a punho, ou pela máquina de datilografar, recém comprada. “Ainda estou me acostumando com ela”, diz um trecho da carta na qual Jorge conta as experiências da máquina para a esposa. Na “Cozinha de Dona Flor”, os visitantes podem aprender as receitas dos pratos preferidos da família por meio de um monitor. Já na cama do quarto do casal, chamado de “Amores e Amantes”, são projetados trechos românticos do livro Tereza Batista Cansada de Guerra – escrito por Jorge em 1972.

A professora de literatura Ana Célia Barbosa, 42 anos, disse que o aprendizado durante a visitação ultrapassa a fronteira das escrituras. “Além de navegar e conhecer um pouco sobre as obras de ambos os escritores na Casa do Rio Vermelho, a gente tem exemplos de união, cumplicidade, amor e simplicidade de vida. Pessoas tão importantes, que viviam cercados de amor e união, preservando raízes e cultivando as alegrias”, disse.

De acordo com Maria João Amado, neta dos escritores e coordenadora de comunicação do local, o perfil dos visitantes tem sido diversificado. “Recebemos pessoas do Brasil inteiro, muitos fãs deles e também muitas famílias, que trazem os mais novos para conhecer a história de Jorge e Zélia”, afirmou.

A arquiteta Andreza Kaline, 30 anos, da cidade de Petrolina, em Pernambuco, disse que visitar o local é como reviver a história do casal. “Sempre fui fã das obras do Jorge Amado e já tinha ouvido falar bastante sobre a casa deles. Como tinha muita vontade de conhecer, aproveitei a visita a Salvador para fazer isso. Estou encantada, principalmente por saber que muitas pessoas importantes já frequentaram aqui e pela representação que Jorge Amado é para a literatura brasileira”, disse.

A Casa do Rio Vermelho foi restaurada pela Prefeitura, juntamente com a Fundação Casa de Jorge Amado e a família dos escritores. Na inauguração do local, compareceram a atriz Sônia Braga, que interpretou Gabriela, uma personagem do escritor baiano muito marcante no imaginário masculino, o secretário do Desenvolvimento, Turismo e Cultura, Guilherme Cortizo Bellintani, e a família de Jorge Amado. A propriedade, onde eles recebiam visitas como Glauber Rocha, Pablo Neruda e Tom Jobim, foi comprada em 1960 com o lucro obtido por Amado com a venda dos direitos do romance Gabriela, Cravo e Canela (1962) para o estúdio MGM.

Matéria publicada na versão impressa da revista Sacada

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