Matéria publicada na versão impressa da revista Sacada
por Silvana Ferraz
Com mais de 600 mil habitantes circulando pelos diversos setores, contribuindo com o desenvolvimento do comércio e da agricultura que servem de base para o fortalecimento da economia, Feira de Santana vem se consagrando como uma verdadeira metrópole. O crescimento da cidade serviu como atrativo para que o Governo do Estado investisse mais nas áreas de: saúde, educação, saneamento e infraestrutura. Para saber mais sobre as intervenções do Estado em Feira de Santana, leia a entrevista com o deputado estadual e líder do governo na Assembleia Legislativa, Zé Neto.
Sacada – Feira de Santana completou 180 anos em 18 de setembro de 2013. Como o Senhor avalia o crescimento da cidade ao longo destes anos?
Zé Neto –Feira de Santana tem um padrão de crescimento hoje que é comparado ao da China. E isso se deve, principalmente, a um processo de localização tanto geográfica e econômica da cidade, como também de localização no tempo, pois hoje estamos situados no tempo do desenvolvimento do Brasil. A cidade nos últimos 10 anos, principalmente no período do Governo Lula, como também no Governo de Dilma, teve uma ascensão extraordinária. Feira viveu muitas situações importantes, como a questão da habitação, fundamental para o seu desenvolvimento. O Programa Minha Casa, Minha Vida já tem 30 mil unidades, praticamente, para pessoas de dois a três salários mínimos, desse universo temos quase 20 mil unidades para os mais carentes, totalizando 120 mil pessoas atendidas diretamente pelo Programa, se considerarmos que cada residência é habitada por quatro pessoas de uma mesma família. O Governo do Estado, juntamente com o Governo Federal, fez várias ações na cidade, como mais de R$300 milhões em saneamento, aumentando a cobertura deste serviço na cidade para 75%, e a expectativa é de chegarmos a 85% até o ano que vem. Ampliamos também o fornecimento de água, aumentando o número de ligações e dando sustentação a todo crescimento. Fizemos também o Hospital da Criança e ampliação de recursos em segurança pública. Estamos construindo a avenida Noide Cerqueira, que está com praticamente 70% das obras encaminhadas. Além disso, temos a avenida Ayrton Senna que já tem o projeto executivo em processo licitatório e conta com uma emenda de R$5 milhões do Deputado Federal Fernando Torres e R$4 milhões do Governo do Estado. São muitas intervenções do Governo do Estado em Feira, a exemplo do SAC; novo complexo policial, que já está pronto, além de termos investimentos significativos na estrutura da UEFS, que saiu de um volume de recursos de R$89 milhões para R$198 milhões de orçamento; a vinda da UFRB. Enfim, são diversas obras que o Estado tem trazido para Feira de Santana, tanto no âmbito federal quanto estadual. E nós sempre estaremos fazendo parcerias com a prefeitura, independente de quem seja o prefeito, para que a cidade possa ter o volume de atenção que merece.
S – Sobre o aeroporto da cidade, queremos saber: o que já foi feito? Como andam as obras? Tem previsão?
Z.N –Em relação ao aeroporto, o Estado fez a parte dele que é a licitação, a UTC venceu a licitação junto com a SINART. A tendência é que até dezembro a gente tenha voo regional, estamos trabalhando junto com a UTC para que isso aconteça. As outras questões relacionadas ao Estado, como desapropriação das áreas e construção do núcleo de incêndio, estão sendo providenciadas. O Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia (DERBA) está permanentemente na área, mantendo contato direto com os moradores daquela região para ir aliviando estas tensões e resolvendo estes problemas. Além disso, compramos um carro de incêndio com um investimento de mais de R$1,5 milhão. Estamos agora fazendo a recuperação total da artéria que liga o aeroporto até a avenida de contorno, e isso vai ser um investimento de quase R$4 milhões. Fizemos também a recuperação da pista, muros, enfim, estamos caminhando para que dezembro já tenha o voo regional. Acho que tudo vai se desenrolar com mais vigor quando o voo regional começar a funcionar. É uma meta nossa, estamos trabalhando com muita determinação para que isso possa realmente acontecer. Esta é a nossa expectativa.
S – O Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA) tem passado por diversas crises, inclusive em relação ao atendimento e sua estrutura física. O que temos de proposta para o HGCA?
Z.N –O Clériston é um hospital que tem dificuldades, mas o Estado vem fazendo intervenções que já contabilizam cerca de dois terços na reordenação de sua estrutura física. Saímos de três para 10 salas de cirurgias, e de 10 para 28 leitos de UTI. A nossa expectativa é construir um novo hospital, mas a crise está aí, e até lá procuraremos estruturar ao máximo o HGCA, encaixando-o cada vez mais na rede municipal e regional. Para desafogar o fluxo de atendimento do Hospital Geral, contribuímos também para o desenvolvimento do Hospital Dom Pedro de Alcântara. O Governo Estadual e Federal foram responsáveis pelo credenciamento dos 12 leitos da UTI. Além disso, conseguimos ampliar o hospital no que diz respeito ao atendimento de oncologia e cardiologia; intervimos diretamente com a Comissão Intergestora Bipartite da Bahia, fazendo um credenciamento tanto por parte do Planserv como por parte do Sistema Único de Saúde (SUS). Vale lembrar que, antes mesmo do SUS, nós já financiávamos a cardiologia do Dom Pedro e agora colaboramos com a quimioterapia e radioterapia; e nós fomos determinantes, principalmente na radioterapia, quando conseguimos antecipar a entrega de um núcleo, que é um dos mais modernos do país, tudo isso num esforço de ter uma unidade a mais funcionando. O Clériston não pode ser visto apenas como o Hospital Geral Clériston Andrade, mas como um conjunto de ações que acabam desaguando no hospital, como a construção do Hospital da Criança que com certeza viabilizou melhorias no atendimento às crianças da cidade e, consequentemente, colaborou com a redução no volume de atendimento do HGCA.
S – Há alguns meses houve uma grande polêmica em torno do Clériston Andrade, em que funcionários e a própria população se posicionaram contra a “privatização” do HGCA. Houve de fato a intenção do Governo do Estado de privatizar o Clériston? E em relação à questão levantada sobre a possibilidade do Clériston se transformar num Hospital Universitário, o que o senhor tem a falar sobre isso?
Z.N –Nunca houve de nossa parte o termo privatização e sim publicização, que significa transferência da gestão de serviços públicos para entidades públicas não- estatais que o poder executivo passa a subsidiar. Houve uma confusão dos termos, mas conseguimos esclarecer em tempo hábil, e hoje estamos dentro de um plano para que a situação seja resolvida. Já em relação a ideia de se criar um Hospital Universitário, é um assunto que ainda passa por um debate, onde ouviremos os funcionários do hospital, médicos e todo corpo administrativo. Esta solução deve ser híbrida até porque nós começamos a ter uma melhora muito significativa no ponto de vista administrativo do hospital. E a Universidade entra nesse ambiente como uma ferramenta que pode ajudar a construir muito mais essa nova caminhada do ponto de vista administrativo. Estamos trabalhando juntos nesta questão. A UEFS já tem uma comissão discutindo o assunto para trazer o pré-projeto junto à sociedade para que isso seja resolvido da forma que a cidade precisa. É vontade do Governo do Estado entrar num acordo com a Universidade, porque esta ideia tira o hospital de uma crise em torno da publicização.
S – Como o senhor avalia o crescimento imobiliário da cidade?
Z.N– Feira de Santana se desenvolveu significativamente no setor imobiliário, mas ela também encolheu muito do ponto de vista da sua modernização administrativa, já que não conseguiu acompanhar, principalmente no plano urbano, as grandes demandas que foram acontecendo no trânsito, na necessidade de arborização do centro da cidade, na organização do centro comercial, recuperação e reordenação do centro de abastecimento e funcionamento permanente da feira da Estação Nova, por exemplo. O desenvolvimento da cidade é extremamente volumoso, mas em alguns pontos ainda precisa melhorar.
S – De que forma a criação da região metropolitana de Feira de Santana contribui para o crescimento da cidade?
Z.N –95% das regiões metropolitanas de todo o Brasil funcionam pouco do ponto de vista administrativo. A região metropolitana funciona mesmo do ponto de vista legal e isso já é importante, porque a cidade passa a ter acesso às políticas públicas federais, que só são possíveis em regime como este.
S – Como o senhor avalia o crescimento atual de Feira de Santana?
Z.N –Nós estamos vivendo um momento muito crucial de planejamento e modernização, do ponto de vista tecnológico da administração. Precisamos de mais velocidade para resolver muita coisa na cidade e não podemos deixar que esse desenvolvimento, que traz muito concreto e asfalto, tire de nós essa coisa maravilhosa que a cidade tem dentro de sua origem, que é ser sertaneja, cidade negra, situada dentro do recôncavo. Os desafios estão postos. A gente precisa fazer com que o desenvolvimento que existe dentro da cidade – que, aliás, é bom lembrar que o setor privado dela sempre é maior do que qualquer crise – tenha uma dinâmica de crescer incrível. A iniciativa dos grandes e pequenos empreendedores da cidade a faz ter a pujança que tem. Nós, do Governo do Estado, precisamos estar a cada dia mais presentes na cidade e é isso que tem sido feito com um esforço grande nosso, principalmente s com o Centro Industrial do Subaé (CIS) que nós ampliamos sua área em 40% nos últimos anos, e vamos ampliar mais. Além disso, queremos avançar com o polo de logística, estamos trazendo, com o apoio do Governo Federal, quatro ferrovias para Feira de Santana, ligando a cidade a Belo Horizonte, Pernambuco e Salvador, ligando também à região de Juazeiro. Trabalhamos no intuito de projetar a cidade não apenas para o momento em que estamos vivendo, mas daqui a 20, 30 anos. E esse é o momento exato: vamos fazer com que este planejamento aconteça, sem perder de vista as suas questões culturais, relacionadas com o seu sentimento histórico, porque como já dizia Rômulo Almeida: “Não haverá desenvolvimento tecnológico, científico, se não houver essa inclusão de sentimentos regionais, estes sentimentos todos que falam da economia regional, dentro do nosso desenvolvimento”. A Bahia perdeu o bonde quando deixou de entender a importância do desenvolvimento lá no passado. Inclusive, o Rômulo construiu um projeto de desenvolvimento que passava tanto pela criação de um Polo Petroquímico, como também, por outro lado, pela criação da valorização de cultura e de mecanismos intelectuais de universidades, enfim, de vetores de desenvolvimento do interior que buscavam agregar o rural e o urbano, ao invés de criar antítese, criar um jogo aliado, ter o que se criava no campo e o que se tinha na cidade. Feira de Santana precisa absorver esta mensagem que Rômulo deixou.