
A mobilidade urbana é um dos eixos centrais para o futuro das cidades. Não se limita à circulação de veículos ou à abertura de vias: trata-se, sobretudo, de conectar pessoas a oportunidades, serviços e direitos. No Grande Recife, esse debate ganha contornos ainda mais urgentes diante das desigualdades históricas, da expansão urbana desordenada e da fragilidade estrutural de muitos territórios.
Três iniciativas recentes se destacam no cenário local: a requalificação do Terminal de Cargas da Imbiribeira, o aporte de R$ 70 milhões nos corredores BRT Leste-Oeste e Norte-Sul e a retomada dos estudos do VLT no trecho entre o Largo da Paz e o Terminal Marítimo. São projetos relevantes, mas que levantam uma questão essencial: que cidade estamos ajudando a construir com esses investimentos?
Os números revelam o desafio. Dados de 2024 da plataforma Moovit mostram que os recifenses gastam, em média, 55 minutos por dia no transporte público. O tempo médio de espera por trecho chega a 20 minutos — o maior entre as capitais brasileiras. Quando o transporte se converte em barreira cotidiana, o direito à cidade é limitado.
O ponto central, portanto, não é apenas ampliar a infraestrutura, mas promover uma mobilidade integradora, sustentável e centrada nas pessoas. Cabe à Arquitetura e ao Urbanismo transformar obras em políticas públicas estruturantes. O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU/PE) tem defendido soluções que dialoguem com o território, incorporem a escuta social e reconheçam a diversidade das experiências urbanas.
Uma pesquisa Quaest divulgada em agosto de 2025 mostra que apenas 35 % da população de Pernambuco avalia positivamente o transporte público e a infraestrutura de mobilidade, enquanto 34 % a consideram negativa. Esses índices refletem tanto a qualidade dos serviços quanto a distância entre a técnica e o cotidiano das pessoas. Projetar cidades é, antes de tudo, compreender as realidades múltiplas que as formam.
O aumento expressivo dos investimentos federais em infraestrutura de transportes em Pernambuco — R$670,2 milhões em 2024, 207% a mais que em 2022 — abre uma oportunidade concreta de transformação. Mas, para gerar impactos duradouros, é preciso planejamento com princípios claros: integração entre modais, eficiência, acessibilidade e justiça territorial.
A Região Metropolitana do Recife reúne milhões de pessoas em condições muito distintas. Garantir que todas possam se deslocar com dignidade é obrigação das políticas públicas. Isso exige mais que obras: exige visão, escuta e planejamento.
Mobilidade urbana é, acima de tudo, inclusão. É mover ideias, oportunidades e cidadania — não apenas veículos. O CAU/PE reafirma seu compromisso com o debate público, técnico e ético sobre a construção de cidades mais humanas, conectadas e sustentáveis. Que cada nova iniciativa seja guiada por esse horizonte.