Prédio que abrigou o Palácio do Menor será restaurado para sediar centro cultural

Cerca de R$ 20 milhões serão investidos na construção de um restaurante-escola, destinado aos comerciários, e um teatro

Foto: Sacada

por Isis Moraes

Parte do patrimônio arquitetônico de Feira Santana, o antigo casarão localizado na Praça Carlos Bahia será restaurado. Pouca gente sabe, mas o prédio, além de ser uma das poucas edificações históricas que resistiram ao tempo e à inércia dos poderes públicos, foi construído, entre 1850 e 1858, pelo Cel. João Pedreira de Cerqueira, importante comerciante e político feirense, com o objetivo de hospedar o imperador Dom Pedro II e sua esposa, D. Teresa Cristina.

De acordo com relatos de diversos historiadores, em função de divergências políticas e questões financeiras, o casal imperial, que veio a Feira de Santana em 7 de novembro de 1859, acabou se hospedando na casa do Cel. Joaquim Pedreira, que era primo e rival do Cel. João. O imponente sobrado que abrigou a família real ficava na antiga Rua Direita, hoje denominada Conselheiro Franco, onde está instalado o Centro Empresarial Mandacaru.

De estilo Eclético, com clara influência da arquitetura Gótica demarcada pela presença de inúmeros arcos ogivais e rosáceas, o prédio foi vendido à Santa Casa de Misericórdia em 1865, com a finalidade de abrigar o Imperial Asylo dos Enfermos, que, posteriormente, passou a se chamar Hospital Dom Pedro de Alcântara. A unidade de saúde, que atendia gratuitamente os doentes da região, funcionou no local por 91 anos, até ser transferido para o Bairro Kalilândia.

Em seguida, até o ano de 1985, o prédio passou a abrigar o 1º Batalhão de Polícia de Feira de Santana, onde centenas de estudantes, intelectuais e políticos feirenses, acusados de crime de subversão, foram interrogados e torturados pelo comando do Regime Militar.

Em 1987, o casarão histórico passou a sediar o Palácio do Menor, entidade criada para abrigar crianças órfãs e em risco social. Durante longos anos, a instituição funcionou em condições precárias, já que parte do prédio, totalmente em ruínas, corria sérios riscos de desabar. Desativado tempos depois, o imóvel foi relegado ao esquecimento, até ser doado ao Serviço Social do Comércio, em 2007, pela Prefeitura Municipal.

Com a estrutura comprometida pelos anos e pela falta de manutenção, o prédio passou mais sete anos intocado e inativo, tornando-se motivo de preocupação para historiadores e intelectuais feirenses, que temiam que novos desabamentos impossibilitassem a recuperação da edificação. No início de 2014, no entanto, reconhecendo o valor histórico do casarão, o Sesc anunciou a restauração do imóvel, que será realizada com supervisão técnica do IPAC, Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia.

De acordo com o Sesc, no local serão construídos um restaurante-escola, destinado aos comerciários, e um teatro com capacidade para quatrocentas pessoas. Cerca de R$ 20 milhões serão investidos na obra. Com esta ação, a instituição corrigirá um erro histórico que os feirenses vêm cometendo ano após ano: a aniquilação compulsiva do perfil arquitetônico da cidade em nome de uma noção equivocada de progresso.

Matéria publicada na versão impressa da revista Sacada

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