Digite seu texto aqui…
Artigo por Wilson Andrade*
Um dos principais segmentos da agricultura (e economia) brasileira, o setor de florestas plantadas, está perto de conquistar – depois de 30 anos – seu Plano Nacional de Desenvolvimento de Florestas Plantadas (PlantarFlorestas) que tem ações previstas para os próximos dez anos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento está à frente do PlantarFlorestas que vem sendo construído conjuntamente com as Associações Florestais Estaduais, a exemplo da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF); e com nossa entidade nacional, a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
O PlantarFlorestas tem como meta aumentar em dois milhões de hectares a área de cultivos comerciais em dez anos. Atualmente, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área cultivada chega a 10 milhões de hectares, principalmente com eucalipto, pinus e acácia. As florestas plantadas estão localizadas principalmente em Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Bahia.
O documento também apresenta um diagnóstico do setor, com os principais aspectos ambientais, sociais e econômicos. O segmento tem grande participação na balança comercial. Em 2017 as exportações só ficaram atrás do complexo soja, de carnes e do setor sucroalcooleiro. De acordo com a Ibá, o país lidera o ranking de produtividade florestal, com média de 35,7 m³/ha/ano, o que representa quase duas vezes mais do que a produtividade dos países do hemisfério norte. A área com florestas plantadas ocupa apenas 1% da área do país, mas é responsável por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais. Ainda de acordo com dados da Ibá, o valor da produção florestal atingiu R$ 18,5 bilhões em 2016 e gera 510 mil empregos diretos.
E a Bahia tem papel de destaque neste cenário. O setor de base florestal se colocou mais uma vez em primeiro lugar no montante das exportações da Bahia. De acordo com dados disponibilizados pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), a Bahia exportou U$S 6.8 bilhões em 2016. O setor florestal teve participação de 18%, com U$S 1,2 bilhão. Na sequência, outros setores importantes como o de Química e Petroquímica, com 13% (U$S 880 milhões); o setor de Cobre e outros Metais com 12% (U$S 816 milhões) e o de Produtos do Agronegócio com 11,4% (U$S 780 milhões).
Ainda de acordo com a FIEB, o setor de base florestal foi o terceiro maior exportador do estado em 2017, com vendas externas na ordem de US$ 1,27 bilhão e com um índice de 15,7% do total exportado pela Bahia, contribuindo com expressivo saldo positivo na balança comercial nacional e do estado.
Outros números reforçam a importância do setor para a Bahia. O PIB da cadeia produtiva do setor florestal da Bahia atingiu R$ 9,3 bilhões em 2016. Este setor contribuiu com cerca de 4,0% no total do PIB estadual no referido ano. Estima-se que a arrecadação tributária do segmento para a Bahia em 2016 foi de R$ 2,69 bilhões, o que representa contribuição de 3,2% no total arrecadado pelo estado, evidenciando a relevante contribuição tributária do setor florestal estadual. E gerou 228,7 mil empregos (diretos, indiretos e efeito renda) em 2016.
Tudo isso também se dá porque o setor de base florestal tem alavancagem de diversos outros segmentos que demandam madeira nos seus processos produtivos, a exemplo da construção civil, da indústria de papel e celulose, a metalúrgica, energia de biomassa, a secagem de grãos do agronegócio, madeira e móveis, entre outros. Isso faz com que, mesmo nos últimos dois anos de redução de economia nacional (e do estado), o setor de base florestal continuou crescendo em referência a empregos, exportações, investimentos, diversificação e desconcentração da atividade econômica no estado (as plantações florestais na Bahia estão localizadas no Sul, Sudoeste, Litoral Norte e Oeste).
Detentor de 647,8 mil hectares plantados principalmente com eucalipto, o estado está entre os líderes do ranking de área florestal plantada – também referência em sustentabilidade. A Bahia possui 730,5 mil hectares de florestas certificadas (entre áreas de produção e de remanescentes nativos) voluntariamente pelas empresas através do sistema FSC e/ou CERFLOR. Estima-se que entre 450-500 mil hectares com ecossistemas florestais nativos no estado são destinados à proteção e preservação ambiental. Deste total, as empresas associadas da ABAF contribuem com 381 mil hectares, o que representa cerca de 88% do total. Em resumo, o setor tem 0,7 hectare preservado para cada hectare de produção.
Provocando ainda mais crescimento para o setor, devemos considerar o compromisso brasileiro, nos acordos mundiais de combate às mudanças climáticas, de plantio ou replantio de 12 milhões de hectares de florestas e mais 5 milhões de hectares no modelo Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF). Por certo, o setor de base florestal terá participação expressiva e majoritária no alcance desse compromisso.
Sem dúvida, pela competitividade dos plantios baianos baseada nas condições edafoclimática (em determinadas regiões ultrapassa 45 m³/ha/ano, acima da média nacional), na avançada tecnologia aplicada por nossos produtores e empresas, boa parcela desses compromissos brasileiros podem resultar no aumento dos plantios locais. Para isso, nós estamos dialogando com a iniciativa privada, agentes governamentais e sociedade civil para que não percamos essa oportunidade.
É preciso, por tudo isso, trabalhar para vencer os principais desafios do setor que estão na área de permissão para plantios por empresas de capital estrangeiro; na área do licenciamento ambiental eficiente e de resposta rápida; na aceleração do prazo para registro de defensivos agrícolas e na melhor logística da madeira e dos produtos acabados.
(*) Empresário e economista, Wilson Andrade tem vasta experiência nas áreas de fusões e aquisições empresariais, relações internacionais e comércio exterior, indústria e agronegócio, Wilson Andrade tem presidido várias entidades setoriais no Brasil e exterior. Desde 2011 tem se dedicado também ao setor florestal, na diretoria da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), a qual participa de mais de 40 diferentes fóruns estaduais e nacionais, onde ocorre uma constante troca de informações e experiências que contribuem para a formulação de políticas públicas e privadas para o desenvolvimento contínuo e sustentável das atividades florestais.
Artigo publicado na 10ª edição impressa da revista Sacada