Investimento em inteligência das máquinas, apesar de tendência, exige prudência dos negócios

Por
Filipe Bento

A escassez de mão de obra na área de tecnologia da informação (TI) e o avanço da tecnologia como um todo estão fazendo com que cada vez mais empresas invistam em Inteligência Artificial (IA). Prova disso é uma pesquisa da IBM que revelou que 41% dos negócios brasileiros já têm implementado em suas bases soluções que conseguem simular capacidades humanas ligadas à inteligência. Essa porcentagem nos faz lembrar da frase do cientista da computação Andrew Ng, uma das maiores referências mundiais em IA, que diz assim: “É difícil pensar em uma grande indústria que não será transformada pela inteligência artificial. Isso inclui saúde, educação, meios de transporte, varejo, comunicações e agricultura. Existem caminhos surpreendentemente claros para a IA fazer uma grande diferença em todas essas indústrias”.

Ele está 100% certo. No segmento de saúde, por exemplo, um levantamento da Universidade de Stanford apontou que a IA é capaz de diagnosticar um dos cânceres mais agressivos que existem – o de pulmão – com bem mais acerto do que os oncologistas. No que tange à insuficiência cardíaca, doença crônica em que o coração não bombeia o sangue como deveria, quem se submete à inteligência das máquinas tem bem mais chance de ser salvo, afinal, ela é capaz de prever o risco de morte com 88% de precisão, segundo a Mayo Clinic.

E o que dizer da onda de IA que vem levando mais eficiência ao campo ao gerar estimativas e manipular dados? Recentemente, uma empresa alemã lançou sua mais nova plantadeira, a qual, graças a mecanismos complexos de inteligência digital, permite que o agricultor averigue a exata população de sementes, simule o plantio, verifique em tempo real o coeficiente de variação, bem como a uniformidade na profundidade das sementes.

Outro exemplo está nos transportes, uma vez que os carros autônomos podem reduzir a quantidade de acidentes nas estradas em até 90%, de acordo com a Universidade de Michigan. Enfim, são infinitos os exemplos do bem que a destreza das máquinas pode causar.

Contudo, apesar de todo esse avanço, é necessário que as empresas tenham cautela com o uso da IA e, agora, mais recentemente, com a IAG, que é a inteligência artificial generativa, e que já está ganhando muitos adeptos. A diferença entre as duas é a seguinte: ao passo que a primeira assente a criação de tecnologias que realizam atividades sem nenhuma interferência humana, a outra se desenvolve a partir de materiais já existentes, criando elementos pragmáticos que reproduzem as singularidades de suas informações basilares. Um exemplo de IAG é o ChatGPT, ferramenta conversacional on-line que se alimenta de informações coletadas na internet.

Ocorre que, parafraseando agora o físico Stephen Hawking, “a criação bem-sucedida de inteligência artificial seria o maior evento na história da humanidade. Infelizmente, pode ser também o último, a menos que aprendamos a evitar os riscos”. E tal pensamento cai como uma luva para os negócios no que tange ao plágio, por exemplo, que é a apropriação indevida de um produto intelectual (texto, obra artística, imagem etc.) de uma pessoa física ou jurídica sem lhe atribuir o devido crédito. Um crime previsto no artigo 184 do Código Penal, cuja pena pode variar desde o pagamento de multa até a reclusão de quatro anos, dependendo da extensão e da forma como o direito do autor foi violado.

Mas não é só. Há de se ter prudência com a propagação de conteúdo ilícito; deep fake, que é a “tecnologia usada para criar vídeos falsos, mas bem realistas, com pessoas fazendo coisas que nunca fizeram de verdade”, usada para fraudes, golpes, espionagem; disseminação de tendências discriminatórias com o potencial de prejudicar indivíduos ao fortalecer preconceitos; violação de direitos de marcas; falta de explicações e transparência nas informações; e programação de códigos maliciosos.

Para não correr nem um desses riscos, a primeira coisa a ser feita é conhecer as capacidades da ferramenta. Em segundo lugar, é fundamental ter em mente que nem a IA, nem a IAG são como o cérebro humano, mesmo sabendo que elas podem ser tão boas ou até mesmo melhores que o homem na execução das tarefas. Todavia, apesar de seu impressionante know-how em termos de aprendizado, elas têm efeitos mais limitados, digamos, e ainda não estão aptas a realizar todas as atividades desenvolvidas por um humano.

E, por fim, mas não menos importante, é imprescindível conferir, com seriedade, seus próprios obstáculos, vez que a omissão e a falta de ética na adoção de inteligência artificial podem, ao invés de trazer benefícios, provocar efeito contrário, e acabar causando problemas regulatórios e de reputação da marca.

Vale lembrar: se tem uma coisa que nunca estará em excesso é a prudência. Portanto, em se tratando de tecnologia, é crucial saber como, por que e para que utilizá-la. De fato, ela precisa ser empregada na circunstância exata para se obter as melhores respostas e, levada a sério, mostrar valor na transformação digital nos mais variados setores da organização. Sempre com a premissa de trabalhar em prol de se manter um cliente mais satisfeito e fidelizado. Do contrário, a conta das aplicações de IA e IAG operadas erroneamente um dia chegará.

Filipe Bento é CEO da Br24, a maior parceira da Plataforma Bitrix24 da América Latina – Foto: Divulgação

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