Em São Paulo, Glass South America recebe Lourenço Gimenes, Alex Brahm e Frans de Witte em palestras sobre o panorama da arquitetura atual

Imagine projetos arquitetônicos onde o maior protagonista é o vidro. Esse foi o trabalho apresentado pelo arquiteto holandês Frans de Witte, durante palestra na Glass South America 2025. Responsável pelo escritório MVRDV nas Américas, de Witte mostrou como criatividade, materialidade e sustentabilidade podem e devem andar juntas na arquitetura.
Para isso, apresentou projetos inovadores. Pense cozinhar em uma bancada toda desenvolvida com vidro ou ter um edifício multifuncional no meio da cidade feito totalmente com o material e que imita uma típica fazenda local? Eles existem e foram criados pela MVRDV justamente para transformar a experiência das pessoas nos espaços.
O arquiteto conta que ambientes coletivos, como shoppings, edifícios corporativos e bibliotecas, também são impactados pelo uso inovador do vidro. Segundo ele, a transparência torna o local mais convidativo para o público externo. “Quando utilizamos o vidro nas escadas, as pessoas ficam inclinadas a utilizá-las no lugar do elevador, o que também auxilia na sustentabilidade da construção a longo prazo”.
Outro importante exemplo é o depósito de arte do Museu Boijmans Van Beuningen, em Roterdã. O primeiro totalmente acessível do mundo. O escritório desenvolveu estruturas de vidro no interior do edifício que permitem uma visualização 360º das obras, gerando uma interação com a arte diferente daquela proporcionada no museu. “Com essa ideia tornamos público o que antes era privado”, completa.
Ele cita também o projeto da fachada de uma loja (atual Hermès) em Amsterdã, intitulada Crystal Houses. O espaço que originalmente era uma moradia teve sua maior característica preservada: os tijolos. A equipe trabalhou com pesquisas de resistência e temperatura para poder desenvolver uma fachada que mescla os tijolos originais com os de vidro.
O material também está no centro dos projetos desenvolvidos pelo chileno Alex Brahm, fundador da + arquitectos. Durante sua fala, ele destacou a importância do uso do vidro considerando as particularidades do contexto chileno e latino-americano. Além de proporcionar conforto térmico durante o inverno e o verão, Brahm também destaca a transparência como uma vantagem quando se pensa nos centros urbanos. Segundo ele, o uso de vidros nas edificações as torna mais “transparentes”, reduzindo seu impacto no cenário das grandes cidades.

Arquitetura em diálogo
Já o brasileiro Lourenço Gimenes, sócio da FGMF Arquitetos, refletiu sobre a produção da arquitetura contemporânea no Brasil e no mundo. Responsável por projetos como a Japan House, em São Paulo, o arquiteto abordou como questões culturais e ambientais devem direcionar os projetos. Para ele, a arquitetura é um agente transformador, fundamental na mudança do cenário e da paisagem, seja ela urbana ou natural. “É preciso considerar o contexto e compreender como aquela construção irá dialogar com o externo e impactar não só aqueles que a utilizam, mas todos que passam por ela diariamente”, diz.
Ele apresentou o projeto Casa Passarela, recentemente premiado no Architecture Hunter Awards. No painel, defendeu que no contexto das casas brasileiras há uma característica de integrar o externo e o interno. Nessa interligação o vidro torna-se um grande aliado. Ele defende ainda que os projetos devem absorver os elementos da paisagem e desenvolver uma relação honesta com questões vistas muitas vezes como “adversidades”, a exemplo de topografias irregulares, chuvas e outros fenômenos naturais.
Questionado sobre a importância da arquitetura se preocupar com a conjuntura geográfica, cultural e social, ele respondeu: “Não existe arquitetura sem olhar para o contexto. Ela não se basta em si mesma. A arquitetura não tem o privilégio e autonomia de abrir mão de todo o resto do mundo. Ela tem a obrigação de ser responsável”, finaliza.