Médica explica por que desacelerar é essencial para a saúde da mulher, principalmente após os 40 anos
O número de mulheres afastadas do trabalho por estresse e ansiedade nunca foi tão alto. Dados da Previdência Social de 2024 mostram um aumento de 68% nos afastamentos por transtornos mentais, como ansiedade e depressão. As mulheres representam 64% desses casos, com idade média de 41 anos, um retrato da sobrecarga feminina e da dificuldade em equilibrar múltiplos papéis.
Entre carreira, família e autocobrança constante, o corpo feminino dá sinais de exaustão. Segundo o IBGE, as mulheres ainda dedicam cerca de nove horas a mais por semana do que os homens aos cuidados domésticos e familiares. Essa rotina intensa, somada às exigências profissionais e emocionais, eleva os níveis de cortisol, o chamado “hormônio do estresse”, que em excesso pode causar ganho de peso, irritabilidade, queda de imunidade e distúrbios do sono.
“O cortisol é essencial para a sobrevivência, mas quando produzido em excesso, desregula todo o sistema. O grande desafio da mulher moderna é equilibrar produtividade e autocuidado, porque viver em alerta constante mantém o corpo em estado inflamatório e acelera o envelhecimento”, explica a ginecologista integrativa Dra. Patrícia Sanches.
A pressa virou rotina, e o preço, muitas vezes, é a saúde. Com o acúmulo de funções dentro e fora de casa, desacelerar deixou de ser um luxo para se tornar uma necessidade. Para muitas mulheres, especialmente após os 40 anos, compreender o impacto do estresse e o papel dos hormônios no corpo é o primeiro passo para restabelecer o equilíbrio.
“A saúde feminina vai muito além dos hormônios. Ela é resultado de uma integração entre corpo, mente e emoções. Envolve equilíbrio metabólico, intestinal, imunológico e também o modo como a mulher se relaciona consigo mesma e com o mundo”, reforça Dra. Patrícia.
Como desacelerar na prática
Desacelerar, porém, está longe de ser simples. Conciliar trabalho, casa e responsabilidades familiares torna o autocuidado um desafio. Ainda assim, reconhecer os próprios limites e buscar pausas possíveis é parte essencial do cuidado com a saúde física e emocional.
“Cuidar de si deve ser um ato diário e de prioridade. Práticas simples como respiração consciente, meditação, sono reparador, alimentação saudável e exercícios regulares ajudam a regular o cortisol. Além disso, ter momentos de prazer, conexão e relaxamento é fundamental. O corpo feminino precisa de pausas para se regenerar, e isso também é terapêutico”, explica.
O sono, por exemplo, é um dos pilares mais negligenciados, e ao mesmo tempo, mais poderosos, da saúde hormonal. “Durante o sono profundo, há liberação de hormônios essenciais como GH, melatonina e leptina, que influenciam energia, imunidade e metabolismo. Dormir pouco ou mal reduz a produção desses hormônios, aumenta o cortisol e desequilibra todo o eixo hormonal”, reforça a especialista.
Outro eixo fundamental é o intestino, considerado pela ginecologia integrativa um verdadeiro órgão endócrino. “É no intestino que ocorre a metabolização e o equilíbrio de diversos hormônios, incluindo o estrogênio. Quando há disbiose, um desequilíbrio da microbiota intestinal, podem surgir inflamações e sintomas como inchaço, TPM intensa e alterações de humor”, orienta.
Atenção especial a partir dos 40 anos
Esse olhar mais amplo é especialmente importante no climatério, fase que antecede a menopausa e costuma ocorrer entre os 40 e 55 anos. Ondas de calor, irritabilidade, esquecimento e noites mal dormidas são comuns, mas também representam um convite à reconexão.
“A ginecologia integrativa busca compreender a raiz desses sintomas. Avaliamos não só os hormônios, mas também o estilo de vida, deficiências nutricionais, microbiota intestinal, inflamação e aspectos emocionais. A partir disso, personalizamos o tratamento para que a mulher viva essa transição com leveza, vitalidade e autoestima”, explica.
Para Dra. Patrícia, a medicina do futuro é aquela que enxerga o corpo como um todo, físico, mental e emocional. “A medicina do futuro é personalizada, preventiva e regenerativa. Ela considera a individualidade de cada mulher e tudo que a cerca. O futuro da ginecologia está em integrar tecnologia e ciência com uma visão mais humana e acolhedora, que ensina a mulher a conhecer e cuidar do próprio corpo com consciência”, afirma.
No fim das contas, desacelerar não é parar, é se permitir viver no próprio tempo. É um gesto de presença, um resgate da autonomia e uma forma profunda de cuidado. “Desacelerar é um ato de coragem. Vivemos em um ritmo que nos desconecta do corpo e das emoções, e o preço é alto: burnout, adoecimento, cansaço, ansiedade. Respeitar o próprio ritmo é escolher saúde e longevidade. A mulher que aprende a ouvir o corpo e honrar seus ciclos não envelhece, ela se transforma”, conclui.

