Experiências profissionais fizeram de Luiz Humberto um talentoso criador

Da arquitetura ao design de produtos, o arquiteto reconhece o valor de todos os traços e desenhos

Foto: Arquivo Luiz Humberto

por Silma Araújo

Há 40 anos trabalhando com arquitetura, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), o feirense Luiz Humberto Carvalho, em meio às lembranças juvenis que o conduziram a seguir esta carreira, percebe-se influenciado por pessoas e situações que contribuíram para a formação, não somente profissional, mas também como cidadão.

“A vontade de fazer arquitetura vem desde o primário, em minhas aulas de desenho, tanto que gastava toda a mesada com revista em quadrinho para copiar as figuras. Já na faculdade tive ótimas influências. como a convivência com os arquitetos José Monteiro Filho e Amélio Amorim, de quem ficava admirando o domínio de desenho. Era fantástico. Por esse e outros motivos acho que Amélio deveria ser reverenciado, não somente pelos arquitetos como pela sociedade feirense”, considera.

Luiz Humberto ainda destaca a importância do engenheiro J.J.Brito que, durante sua função de secretário de Urbanismo da cidade, determinou todo o seu arruamento. “Tudo é uma malha interligada, esta é uma grande diferença entre Feira de Santana e outras cidades do mesmo porte”, observa.

De acordo com Luiz Humberto, o sucesso profissional lhe veio diante de três principais fatores. “O primeiro deles está relacionado a meu pai, João Luiz Carvalho, que era uma pessoa de ótimos relacionamentos e a sua influência me deu muitos empurrões. Particularmente, não fiz o Hotel Feira Palace, há 45 anos, quando ainda era estudante do quarto ano, porque era bom. Mas, sim, porque era filho dele”, avalia.

Entre risos, o arquiteto comenta que, certa vez, João Luiz foi surpreendido por alguém perguntando se era pai de Luiz Humberto. “Meu pai então riu, pensando o quanto as coisas haviam mudado. Antes, ele era a referência, porque eu quem era sempre perguntado se era filho dele. Realmente inverteu”, lembra.

Outro ponto importante para a solidificação de sua carreira foi o fato de ser funcionário do Banco do Estado da Bahia (BANEB) como arquiteto. “O horizonte profissional foi aberto. Trabalhava um turno no banco e outro no escritório, assim pude dedicar-me aos projetos com mais liberdade”, avalia.

Ser amigo de Alfredo Falcão também foi positivo em sua trajetória, o que lhe rendeu consideráveis oportunidades de trabalho. “Alfredo era dono da Fiel, a primeira grande imobiliária de Feira. Com ele fiz o bairro Muchila, o edifício Ana Muller e uma série de outras obras”, relaciona.

Com uma vida dedicada à arquitetura, Luiz Humberto diz que tem preservado o perfil de seus projetos, deixando uma marca de traçado única em todos eles. “Se compararmos, o conceito continua o mesmo, reconhecido como o trabalho do escritório. E mesmo depois de ter terminado a sociedade que mantinha com Neilton Dorea, a marca LHC rapidamente foi sedimentada”, define.

Foi baseado nessa concepção e lembrando- se da conjectura de anos atrás que Luiz Humberto explica como o perfil de designer de produtos foi desenvolvido. “Antigamente o acesso aos móveis de design era muito limitado e quando íamos preparar a composição interna das residências não encontrávamos aqueles que condiziam com o projeto. Então, começamos a fazer design de produtos, os móveis, aproveitando tudo. Considerando que qualquer desenho tinha seu valor”, conta.

Voltando-se para o presente, Luiz Humberto discute alguns posicionamentos da arquitetura contemporânea, rirmando-se favorável à disseminação das criações. “Não sou contra a popularização dos móveis de design. Todo mundo tem que ter acesso a tudo. Considero que o grande design do século XX foi a cadeira de polipropileno, aquela que empilha uma em cima da outra. Ela é bonita, durável, baratíssima e com um design que atingiu as massas”, salienta.

Analisando o processo de formação acadêmica atual, ele levanta a reflexão de conhecimentos que são importantes à formação e devem ser sabiamente abordados. “Vejo que o ensino da arquitetura mudou muito. A arquitetura se vale muito da história e da arte, nisso se vê o quanto são necessárias.”, considera.
Quanto ao seu espaço de atuação, o arquiteto frisa que divide os seus projetos entre Feira de Santana e Salvador, sendo a cidade feirense responsável por cerca de 60% do volume de projetos do escritório atualmente.

Matéria publicada na versão impressa da revista Sacada.

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