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Inovação e tecnologia inspiram o premiado arquiteto Antonio Caramelo

Foto: Tarso Figueira

por Silma Araújo

Ao passar do tempo, aprimorar o talento é algo que se alcança com determinação e práticas contínuas, que fazem do firmar e consagrar de uma carreira profissional o curso natural daqueles que se destacam. Isso foi o que ocorreu com o renomado arquiteto baiano Antonio Caramelo.

Filho de comerciante, criado na região do Chame-Chame, em Salvador, quando garoto já ensaiava o que futuramente seria a sua profissão, ao erguer empiricamente tijolo sobre tijolo. “Meu avô era dono de um material de construção e levava os produtos que não cabiam na loja para guardá-los no sítio onde morávamos. Lembro-me quando tinha sete anos e, com aquele mundo de materiais, já fazia pequenas barracas e casas de andar usando os blocos e as madeiras. Então vejo que a ideia construtiva, a espacialidade e a construção sempre estiveram na minha cabeça”, constata o arquiteto.

Com sua facilidade e paixão pelo traçado, Caramelo inicia a pintura de quadros, orientado por sua tia. Neste universo do desenho que o jovem obstinado iria decidir pela carreira arquitetônica e mudar definitivamente de vida. “Tive oportunidade de fazer diversas outras atividades. Entretanto, minha paixão por esta área foi tremenda que, aos 17 anos, saí de casa para conquistar meu próprio destino. Isso foi preciso porque meu pai, que era comerciante, acreditava que os três filhos deveriam ser também. Então, como não concordava, decidi seguir”, conta.

Segundo ele, a sorte também foi um elemento que marcou a sua história. Quando ainda estava no início da faculdade de Arquitetura, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Caramelo foi à procura de um amigo que pudesse indicar um local que estivesse precisando de um desenhista. “Ele levou-me ao escritório em que trabalhava. Quando chegamos, o chefe dele estava com uma pintura incompleta de uma moça, o seu rosto estava bem pintado, porém seus cabelos ainda inacabados. Tomei a liberdade de perguntar-lhe se poderia terminar os cabelos e, após a sua permissão, quando concluí, ele elogiou-me e percebeu que eu tinha talento para a pintura”, lembra animado.

“Coincidentemente, o desenhista da empresa havia saído há poucos dias e ele me convidou para fazer parte de sua equipe. Argumentei que só poderia começar a trabalhar depois de dez dias, porque teria que sair do trabalho em que estava. Entretanto, esse foi apenas um argumento para que eu ganhasse tempo e aprendesse a desenhar formalmente. Pedi a um amigo de infância, que já estava avançado no curso de arquitetura, que me orientasse. Ele prontamente ofereceu-me a planta de uma casa e folhas de papel manteiga para decalcar os traços. Foi então que passei uma semana praticando. Até cheguei a decorar o desenho de tanto ter praticado”, declara sorrindo. Caramelo conta que em pouco tempo aprimorou os traços, desenvolvendo o estilo que era usado na empresa da qual tornou-se sócio três anos depois.

A sua dedicação à arquitetura era o que ocupava boa parte do seu cotidiano, isso porque a prática da profissão sempre o encantou. Tanto que na faculdade Caramelo era conhecido como turista. “Passava a maior parte do meu tempo no escritório. Gostava mais da prática que da teoria”, diz.

No último ano da faculdade, Caramelo recorda-se que o seu professor, Diógenes Rebouças, o indicou para concluir a obra do plano piloto do bairro Caminho das Árvores, em Salvador, sob sua supervisão. “O projeto foi um sucesso. O loteamento foi todo estruturado e entregue pela Odebrecht. A partir daí, fui responsável pelo Porto Seco Pirajá, o novo centro, e outros projetos da empresa. Ou seja, já comecei com o melhor cliente da cidade”, comenta.

A arquitetura marcou todos os momentos de sua vida, inclusive a conjugal. Prova disso foi ter dito à namorada que casaria somente depois de estabilizado na profissão. “Sempre dizia que só casaríamos depois que tivesse meu escritório, a casa e o carro, por isso namoramos durante 11 anos. Engraçado foi que, quando estávamos próximos de casar, disse seriamente que tinha uma amante. Ela se assustou e ficou extremamente enlouquecida. Quando justifiquei que seria a arquitetura, ela, então, mais calma, aceitou as minhas condições, que foram as de não se importar com a minha extrema dedicação à profissão”, revela.

As alegações feitas à esposa foram baseadas em sua concepção de que a arquitetura não aceita concessão, pois se o propósito é fazer algo com seriedade, a entrega tem que ser total. “A inspiração para um projeto não tem hora certa para acontecer. O raciocínio tem que ser contínuo, senão a ideia se perde”, argumenta Caramelo.

A extrema dedicação rendeu ao arquiteto alto reconhecimento profissional e uma carreira permeada de projetos realizados em todos os segmentos da arquitetura, distribuídos em várias cidades do país. Por não deixar-se rotular, o extenso histórico contabiliza mais de dois mil projetos em seu exímio currículo.

Para Caramelo, a carreira que construiu foi possível porque, segundo ele, a pessoa não se faz arquiteto, mas, sim, nasce como um. “Não basta apenas querer a arquitetura, ela tem que querer você”, conceitua.

Sobre a construção basilar de seus mais de 40 anos de arquitetura, Caramelo diz simplesmente que o segredo está em preocupar-se com as novas tendências da área e ter a iniciativa de propor essas conquistas ao mercado. “Não gosto de falar de tempo, porque ele não avalia em nada e não é pressuposto de qualidade. O importante é fazer coisa boa, independentemente do tempo, embora concorde que ficar quarenta anos no mercado fazendo sucesso é muito significativo”, fala emocionado.

Consagrar-se em uma competitiva área na qual novos promissores profissionais a cada dia mostram-se ao mercado exige, dos mais experientes, a destreza de aprender com as transformações das concepções. “Percebo que os mais novos julgam que os mais velhos são pessoas superáveis, que não têm mais ideias novas, como se elas só fluíssem em corpo novo. A mente nova está em qualquer corpo, em qualquer idade. O que precisamos é ser inquietos e buscar inovação e tecnologia”, avalia.

Como meio de comprovar sua afirmação, o escritório Caramelo Arquitetos Associados Ltda. mantém o projeto Inovar com o objetivo de conhecer e aplicar tudo aquilo que há de mais novo no cenário da arquitetura. Investir em pesquisas sobre os novos produtos da área é de extrema importância pra Caramelo que, durante uma palestra realizada em uma faculdade de arquitetura de Salvador, foi questionado por um estudante se não seria muita pretensão manter esse projeto voltado para inovações.

“Respondi que o que precisamos é ter ousadia e não ter medo. Quando disse inovar em arquitetura, referi-me a materiais altamente modernos que foram lançados no mercado, que facilitam sobremaneira os projetos, por exemplo, o ETFE (etileno tetrafluoretileno) utilizado em grandes coberturas sem precisar de emendas. Falei que existe também o MLC (madeira laminada colada), que tem a propriedade de formar pisos de grandes estruturas e que, por não ser preciso erradicar as florestas, está sendo usada no mundo todo. Concluí a minha lista de materiais ao especificar para o jovem a utilidade do TPO, uma membrana, produzida pela Firestone, que consegue moldar e impermeabilizar qualquer tipo de estrutura. E que, neste momento, estamos estudando as aplicações do furuleno e do grafeno, ambos provenientes do carbono, e também sobre a nanotecnologia aplicada à construção, que é capaz de potencializar até seis vezes a resistência do concreto”, completa.

Firmando o seu compromisso com as novas tecnologias, o arquiteto explica que o prédio onde está situado o seu escritório foi projetado com os recursos mais modernos e sustentáveis da atualidade. “Gosto de fazer testes, e quando pensei este prédio baseie-me na sustentabilidade. Por isso, usamos a água para captação, armazenamento e transformação de energia. Todos os fios são de fibra ótica, a iluminação é toda de LED, a automação é completa e os detectores de fumaça são sem fio, permitindo que sejam deslocados do lugar sem dano. Exploramos a maior quantidade de luz solar possível, a fim de reduzir o consumo. Para isso, a estrutura é toda feita em vidro”, especifica.

O prazer pela arquitetura demonstrado por Caramelo é apenas um dos motivos que o fizeram premiado por diversas entidades nacionais e internacionais. E para ele, tais conquistas são resultado de seu incansável aprendizado. “Gosto de informação e pesquiso muito sobre tudo, principalmente tecnologia. Acredito que devemos usá-la a nosso favor, visto que veio para evoluirmos e não para criar uma dicotomia com aquilo que existia antes, pois os meios se somam. Na nossa realidade cabe tudo!”, conclui.

Matéria publicada na versão impressa da revista Sacada.

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