Empresas pretendem usar a tecnologia de blockchain para criar um mercado de reciclagem em que todos os elos da cadeia sejam devidamente remunerados
A Fundação Espaço Eco, instituição criada e mantida pela Basf, está coordenando um projeto que busca criar uma moeda digital para materiais de reciclagem. Batizada de reciChain, a iniciativa conta com a participação de Natura, Henkel, Braskem, entre outras empresas, principalmente do setor químico.
Segundo Rafael Viñas, gerente de operações da fundação, a iniciativa surgiu dentro da Basf. “Há um edital interno para fomento de negócios de impacto”, explicou Viñas, que foi o convidado desta semana do podcast ESG de A a Z, produzido pela EXAME. “Mas, entendemos que, para ter massa crítica, era necessário criar um consórcio de empresas.”
Com a tecnologia de blockchain, o consórcio criará tokens cuja finalidade é atestar a veracidade das informações, como a qualidade e as condições de origem dos materiais, e garantir que embalagens e outros produtos recicláveis não foram para em aterros ou lixões. As empresas participantes ou têm obrigações legais de fazer essa logística reversa, ou fizeram compromissos públicos de reduzir o descarte, como no caso da Natura.
Esses tokens servirão, também, para remunerar toda a cadeia de reciclagem. “O que nós estamos fazendo é estruturar a cadeia do pós-consumo”, afirma Viñas. “Vai funcionar como um negócio de impacto. Resolve um problema, mas também gera negócios. O token, ou essa moeda virtual, poderá circular entre os investidores.”
Uma parte importante da estruturação dessa cadeia é a formalização dos catadores e carroceiros, a ponta mais frágil da cadeia. A plataforma de blockchain irá conectar a empresa à rede de profissionais informais da reciclagem, permitindo que esse trabalho seja certificado para fins legais, ou forneça um volume consistente de matérias-primas para determinadas indústrias. Com isso, será possível remunerar adequadamente toda a cadeia, inclusive catadores e carroceiros.
Os primeiros testes com usuários da plataforma começaram a ser realizados neste mês. Até o meio do ano, a expectativa é lançar o MVP (mínimo produto viável, a primeira versão do sistema) da plataforma e abrir para o mercado no segundo semestre. O principal parceiro do projeto é o Instituto Recicleiros, organização sem fins lucrativos responsável pelo programa Cidade+, que oferece suporte técnico para as prefeituras regulamentarem a coleta seletiva. Além das empresas citadas, fazem parte do consórcio a Bomix, de embalagens; a Triciclos, do setor de resíduos; e a Wise, recicladora de plásticos.