Do passado ao futuro: a urgência do verde na arquitetura

Se há vinte anos o “verde” estava em pauta nas discussões da Arquitetura, hoje ele certamente já comprovou ser um termo inseparável do pensamento desta disciplina e essencial para conceber o amanhã da humanidade.

2030 – São Paulo, cidade como floresta. Crédito: Atelier Marko Brajovic/Reprodução

A crise climática revelou o mau planejamento de nossas cidades e dos espaços que habitamos. Tanto a construção quanto seus projetos contribuem para altas emissões de gás carbônico. Felizmente, há várias formas de intervir para trazer mudanças neste cenário, seja através dos materiais e técnicas adotadas em cada iniciativa ou mesmo através do impacto geográfico e social. Neste cenário, a única certeza é que para pensar o futuro não podemos ignorar o “verde” em todos os seus recentes significados: natureza, sustentabilidade, ecologia.

Discutir o futuro aliado ao tema do meio-ambiente não é uma novidade. Em 2001, a Architectural Design: Green Architecture, an International Comparison já trazia um panorama do tema que introduzia a arquitetura verde em nível internacional. A publicação era intercalada por “Questionários Verdes”, que ofereciam a perspectiva de grandes arquitetos internacionais sobre este assunto, como Norman Foster, Richard Rogers, Thomas Herzog, Jan Kaplicky e Ken Yeang.

Há duas décadas, esses nomes já traziam ao público a urgência de olhar para questões como o impacto ambiental das edificações, a necessidade da adoção de energias renováveis, a forma como pensamos os materiais nos edifícios, as adversidades do alastramento urbano e a interconectividade com os sistemas naturais. Tais tópicos continuam mais atuais do que nunca, mas não por isso o debate deixou de progredir, mesmo que lentamente.

O arquiteto croata-brasileiro Marko Brajovic, que tem sua prática alinhada à biomimética, aborda o assunto de uma forma primordial, dizendo que “as plantas são ‘verdes’ pois o par especial de moléculas de clorofila utiliza a extremidade vermelha do espectro de luz visível para alimentar reações dentro de cada célula” e, logo, discorre, que “verde é o fluxo de energia, matéria e informações para o sistema da Vida. Os arquitetos são pensadores de sistemas e devem entender a complexidade da arquitetura como um organismo, como um processo metabólico interdependente com o meio ambiente, em constante transformação. Essa foi a história da arquitetura, como ela evoluiu através dos séculos adaptando-se às condições de mudança e como ela tem que evoluir neste novo tempo desafiador”.

“A arquitetura tem que se antecipar e prever o futuro, evoluindo urgentemente a percepção antropocêntrica (e mecanicista) real em uma atividade ecológica de inter-relação com o meio ambiente natural. Uma arquitetura integrada com o processo metabólico de nosso planeta projeta para a coexistência com todas as espécies onde os seres humanos podem se beneficiar mutuamente”. – Marko Brajovic

Por fim, ele conclui que “o futuro é a sincronicidade da arquitetura com os processos naturais, como sentido inteligente, resiliente e significativo da vida”.

Do outro lado do planeta, no Vietnã, o escritório HGAA nos lembra que “não há somente Arquitetura Verde, mas também Economia Verde, Indústria Verde, Energia Verde e agricultura sustentável e quaisquer atividades humanas que precisam ser consideradas e pensadas sobre o meio ambiente e a mudança climática”, e concluem que o “‘verde’ não está apenas nas plantas, árvores, mas também se tornaram questões necessárias para viver, trabalhar, brincar, viajar e mergulhar na natureza todos os dias, para que possamos proteger o meio ambiente e usar a energia de forma eficiente. Portanto, pensar o ‘verde’ pode se tornar um trabalho indispensável e obrigatório, tanto no presente quanto no futuro, para poder trazer o mundo ao equilíbrio do habitat”.

Eles também trazem a história recente do Vietnã que pode servir de exemplo para muitos outros países: uma crise agravada pela migração aos grandes centros urbanos junto de uma mentalidade dos cidadãos e investidores que se preocupam mais com o custo da construção civil ao invés de pensar o modo como ela é executada, fatores esses que intensificam as baixas condições de vida da população e, na maioria das vezes, produzem espaços sem qualidade às atividades humanas.

Entretanto, após vários anos de desenvolvimento econômico, esse cenário passou a ser modificado no Vietnã conforme a importância e a necessidades de espaços verdes, da harmonia com a natureza, bem como do ambiente útil, são mais valorizadas. Portanto, hoje, “em muitos projetos arquitetônicos vietnamitas, alguns arquitetos e investidores cuidam e se interessam pelo meio ambiente, o que não só traz muitos benefícios aos usuários, mas também à sociedade, além de difundir mensagens de proteção ambiental”.

Se há vinte anos o “verde” estava em pauta nas discussões da Arquitetura, hoje ele certamente já comprovou ser um termo inseparável do pensamento desta disciplina e essencial para conceber o amanhã da humanidade. Como podemos observar na conclusão do pensamento dos arquitetos vietnamitas, é necessário compreender novas possibilidades de horizonte para uma conciliação entre a construção civil e a natureza:

“No futuro, precisamos ter mais e melhor visão a longo prazo para questões ambientais como a promulgação de regulamentos, legislação e políticas de planejamento e soluções arquitetônicas específicas. Cada indivíduo na sociedade deve ter pensamentos e ações específicas que protejam o meio ambiente em conjunto e, em breve, tragam a natureza viva de volta a um estado de equilíbrio, a fim de garantir o desenvolvimento sustentável da humanidade”. – HGAA

*Por Victor Delaqua/ArchDaily

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