Contrariando entidades e ambientalistas, ministro do Meio Ambiente observa barreiras para o desenvolvimento da bioenergia no Brasil e de alternativas mais sustentáveis para os sistemas de produção
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, declarou, nesta segunda, 5, que considera uma miragem a ideia de aplicar sistemas de produção baseados na substituição de recursos fósseis e não renováveis, e atribuiu isso à falta de incentivos para atração de capital privado. A declaração foi feita durante uma live transmitida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) com o tema voltado ao desenvolvimento sustentável na Amazônia. “Nós acordamos para a bioeconomia, mas hoje é uma miragem”, disse. Ele ainda completou negando que o governo ignore o tema da bioeconomia, disse não ser contra pesquisas, tampouco contra a ciência, e aproveitou para questionar governos anteriores que, segundo ele, não investiram na transição à economia de baixo carbono. Salles declarou que o direcionamento das pesquisas no Brasil é dado pelo mercado e esse estímulo enfrenta barreiras como planejamento tributário, isenções e facilitação de patentes, que atrairiam o investimento privado no desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia. “Se você tem uma mentalidade contra setor privado, você cria regras e mecanismos burocráticos, que é uma forma de evitar que o setor privado entre na região”, pontuou o ministro.
O que é – Bioeconomia é um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos em sistemas de produção sustentáveis. Para os especialistas, a bioeconomia é realidade no Brasil desde os anos 70, quando foi criado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). A iniciativa surgiu, à época, para enfrentar a crise mundial do petróleo. Foi o pontapé para o Brasil tornar-se o segundo maior produtor mundial de etanol e o maior exportador mundial.
A bioeconomia envolve também a produção de plásticos biodegradáveis, biopolímeros, biopesticidas, pigmentos, alimentos funcionais e biofortificados até medicamentos, fragrâncias, cosméticos e bioprodutos. Para isso, várias aréas do conhecimento cooperam no desenvolvimento da bioeconomia, como: biotecnologia industrial, genômica, biologia sintética, bioinformática, química de renováveis, robótica, tecnologias de informação e nanotecnologia.
Para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), “em um país megabiodiverso como o Brasil, dono da maior biodiversidade de flora e fauna do planeta – com mais de 100 mil espécies animais e cerca de 45 mil vegetais conhecidas – é premente investir em um modelo econômico baseado no uso sustentável de recursos naturais; quando bem caracterizados e racionalmente explorados, esses recursos podem contribuir de forma efetiva para alavancar a bioeconomia nacional”.
Tendências – Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a bioeconomia movimenta mundialmente cerca de dois trilhões de euros e gera cerca de 22 milhões de empregos. Além disso, as atividades do setor estão no cerne de pelo menos metade dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, desde a segurança alimentar até a garantia de acesso à energia e saúde. Ainda de acordo com a Embrapa, o Brasil tem potencial para aplicar a bioeconomia junto à agricultura e à indústria através da produção de alimentos, energia, química verde, fibra, novos insumos e prestação de serviços, aprimorando processos de forma inovadora e sustentável. | *Com informações da Embrapa e Estadão.